Esta é a sétima vez que o programa BIP PROOF, iniciativa da U.Porto Inovação, garante verba para financiar projetos inovadores na execução de provas de conceito. Serão, ao todo, seis os projetos financiados nesta edição de 2024/2025, e cada um vai receber até 10 mil euros. 

À semelhança dos anos anteriores, e desde o seu arranque, esta edição do BIP PROOF contou com o apoio da Fundação Amadeu Dias (FAD). A Caixa Geral de Depósitos também se juntou ao programa como parceira. 

“O BIP PROOF é uma iniciativa que demonstra o que nós, na Universidade do Porto, queremos fazer: trazer a investigação para a sociedade em geral". São palavras de Pedro Rodrigues, Vice-Reitor para a Investigação e Inovação na U.Porto quando questionado sobre a importância do programa. Para o Vice-Reitor, esta é uma "iniciativa a manter no futuro".

 

BioECOchar: uma aplicação multifuncional para reutilizar resíduos agrícolas e tratar águas residuais

“É um projeto que utiliza resíduos agrícolas que, de outra forma, seriam provavelmente queimados e dá-lhes uma nova vida útil”. São palavras de Antón Puga Pazo, investigador principal do BioECOchar. Falamos de um projeto focado na economia circular que visa utilizar várias tecnologias para reutilizar resíduos e tratar águas residuais. Está a ser desenvolvido nos laboratórios do LAQV/REQUIMTE por um grupo de cinco cientistas.

O investigador Antón Puga Pazo explica as diferentes fases por que passa o BioECOchar: “Numa primeira fase – chamada etapa I – será utilizado biochar de resíduos agrícolas como adsorvente para remoção de fármacos (considerados micro contaminantes) em águas residuais contaminadas. Depois vem a etapa II, que consiste na regeneração por métodos eletroquímicos desse material – que está saturado de micro contaminantes. Desta forma, o biochar poderá ser reutilizado em vários batch de adsorção-regeneração. Por fim, e quando o biochar começar a perder eficiência, será regenerado uma última vez, ficando limpo de fármacos e podendo, depois, ser utilizado como fertilizante (etapa III)”. Encerra-se, assim, o ciclo.

Além da reutilização dos resíduos agrícolas, dando-lhes uma nova vida, o projeto BioECOchar também permite que, no final dessa nova vida o material seja utilizado noutra missão: a fertilização. “Assim, fazemos com que o resíduo final seja zero, alcançando o conhecido zero waste”, refere Antón Puga Pazo.

O financiamento agora angariado através do programa BIP PROOF será, como refere a equipa, “uma grande ajuda para o projeto” nas diferentes etapas. “O dinheiro será utilizado, principalmente, para um bolseiro de investigação que ajude nas tarefas do projeto. Desta forma, um estudante de licenciatura ou mestrado, poderá começar a trabalhar no laboratório, conseguindo experiência e habilitações lhe possam ser úteis no futuro”, refere Antón Puga Pazo. Outra parte do orçamento irá para análises do material nas diferentes etapas referidas.

A equipa por trás do BioECOchar é composta por investigadores do Grupo de Reação e Análises Químicas (GRAQ). O GRAQ está integrado na rede de laboratórios LAQV/REQUIMTE. Da esquerda para a direita, na fotografia: Cristina Delerue-Matos, Antón Puga Pazo, Cristina Soares e Manuela Moreira. Da equipa faz parte também Verónica Poza-Nogueiras, investigadora do grupo BIOSUV da Universidade de Vigo, que atualmente está a fazer uma estadia pós doutoral no GRAQ.

 

DMD4PD: uma nova esperança para doentes com Parkinson

 

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurológica degenerativa, de evolução lenta e crónica, associada à perda de células cerebrais (neurónios). Essas células produzem dopamina, um neurotransmissor que afeta o controlo dos movimentos. As novas abordagens terapêuticas na DP ambicionam modificar o curso da doença e melhorar a resposta à terapia convencional. E é nesse contexto que se enquadra o projeto DMD4PD, desenvolvido por cientistas da Universidade do Porto. “É uma estratégia inovadora que visa superar as limitações dos tratamentos atuais, tanto em termos de segurança como de eficácia clínica”, dizem.

Na última década conseguiram-se avanços científicos relevantes no que diz respeito à doença de Parkinson. No entanto, descobrir novos medicamentos para a tratar continua a ser, como referem os responsáveis pelo projeto DMD4PD, “um grande desafio”.

“Em 2023, foram registados um total de 139 ensaios clínicos relacionados com a DP, com milhares de milhões de euros investidos para tentar, sem êxito, suprir este desafio societal. O último medicamento aprovado para o tratamento da DP pela EMA e FDA foi em 2016 e 2020, respetivamente, um inibidor da catecol-O-metiltransferase (COMT), usado para alívio sintomático, mas tal como todos antiparkinsonianos não interefere na evolução da doença”, referem os investigadores.

Assim, o principal objetivo do DPD4PD é “validar um novo inibidor da COMT e quelante de metais divalentes, desenvolvido, validado e patenteado pelas equipas, como um fármaco modificador da doença de Parkinson”, referem.

Os 10 mil euros angariados no programa BIP Proof serão aplicados em ensaios pré-clínicos in vitro e in vivo, para validação do conceito e permitir, numa segunda fase, efetuar ensaios clínicos piloto deste novo potencial “antiparkinsoniano”.

A equipa responsável pelo projeto é composta por Fernanda Borges, Sofia Benfeito, Daniel Chavarria, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e Patrício Soares-da-Silva, Bárbara Albuquerque e Paula Serrão da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Com uma abordagem promissora, o DMD4PD poderá “representar um avanço significativo no tratamento de doença de Parkinson, oferecendo uma nova esperança aos pacientes que ainda aguardam por soluções terapêuticas de abrandar ou parar a progressão da doença”, concluem os investigadores.

 

PepTRAP: uma abordagem farmacológica inovadora para combater a doença de Parkinson

 

 

Também ligado ao tratamento da doença de Parkinson está o projeto PepTRAP, desenvolvido por Ivo Dias e Sara Reis (ambos investigadores do LAQV/REQUIMTE na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) e também por Xerardo Mera e Eddy Sotelo (ambos investigadores e docentes na Faculdade de Farmácia da Universidade de Santiago de Compostela). 

“A levodopa, um precursor de dopamina, é o fármaco de eleição no tratamento da doença de Parkinson. Contudo, a terapia com levodopa vai perdendo efeito ao longo do tempo, necessitando de doses terapêuticas cada vez maiores e, consequentemente, surgem efeitos secundários graves que podem mesmo exacerbar os sintomas da doença”, explica o investigador Ivo Dias. Contrariando isso, o projeto PepTRAP tem como objetivo explorar uma nova abordagem terapêutica através do desenvolvimento de moléculas capazes de modular a atividade dos recetores de dopamina, tornando-os mais sensíveis a este neurotransmissor”. Desta forma, estes recetores podem ser ativados “em níveis sub-ótimos de dopamina, aliviando os sintomas da doença de Parkinson”, acrescenta. 

Os moduladores da PepTRAP são apenas farmacologicamente ativos na presença de dopamina. Na ausência de dopamina “não possuem efeito nas vias dopaminérgicas sendo, por isso, mais seguros que outras opções terapêuticas atuais”, referem os investigadores. A tecnologia pode ser usada em estágios iniciais da doença de Parkinson (quando ainda existe dopamina no sistema nervoso central) de forma a atrasar a terapia com levodopa. 

Para alcançar este resultado, a equipa de investigação está focada "no desenvolvimento de derivados de um neuropéptido com capacidade moduladora dos recetores de dopamina, a melanostatina, de forma a aumentar a sua potência e melhorar as propriedades biológicas compatíveis com a sua translação clínica”, explicam.

Já há vários anos que este grupo de cientistas tem vindo a dedicar-se a explorar alternativas farmacológicas para o tratamento da doença de Parkinson. Para o grupo, a distinção no BIP Proof é um reconhecimento do trabalho efetuado, e “terá um impacto muito significativo na progressão do projeto, permitindo a valorização e o desenvolvimento da tecnologia, reunindo mais evidências acerca do seu potencial terapêutico”, dizem. 

O financiamento agora angariado permitirá, então, aumentar a maturidade da tecnologia e também atrair potenciais parceiros industriais para uma aproximação ao mercado. Numa primeira fase os 10 mil euros serão aplicados na aquisição de consumíveis e reagentes. Depois, será realizada “uma bateria de estudos in vitro, os quais são essenciais para caracterizar o perfil biológico destes moduladores e identificar os melhores candidatos para futuros estudos pré-clínicos em modelos animais da doença de Parkinson”, conclui Ivo Dias.

 

PEPILSKIN: combater a "pandemia silenciosa" das feridas crónicas

 

 

Sejam úlceras do pé diabético, úlceras varicosas ou escaras de doentes acamados, as feridas crónicas são um problema grave e em rápido crescimento. Isso deve-se maioritariamente ao facto de o aumento da esperança média de vida não estar, necessariamente, acompanhado por uma melhoria da qualidade de vida. Foi com este problema em mente que surgiu, no REQUIMTE, o projeto PEPILSKIN.

“As feridas crónicas são mais prevalentes em pessoas idosas e/ou com outras patologias associadas e, por isso, infetam facilmente, o que dificulta ainda mais a sua resolução. Isso é agravado pelo aumento alarmante de micróbios resistentes aos antibióticos”. A explicação é de Ricardo Ferraz, um dos investigadores por trás do projeto. Acrescenta ainda que estas feridas provocam grande mal-estar físico e mental aos pacientes, obrigando a contínuas intervenções dolorosas, bem como a utilização frequente de antibióticos “cuja eficácia é cada vez menos garantida”.

Com o bem-estar desses doentes em mente, nasce o projeto PEPILSKIN, um produto inovador de aplicação tópica para a prevenção e tratamento de feridas crónicas. Falamos de um gel para aplicação direta nas feridas, baseado numa tecnologia recentemente desenvolvida por uma equipa de investigadores das quais fazem parte, além de Ricardo Ferraz (LAQV/REQUIMTE, Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto), Ana Gomes e Paula Gomes (LAQV/REQUIMTE, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto). “Através da tecnologia que desenvolvemos conseguimos suprimir a necessidade de usar antibióticos convencionais, substituindo-os por péptidos de origem natural que nós modificamos de forma a apresentarem, simultaneamente, ação antimicrobiana de largo espetro e efeitos cicatrizantes.”, explicam.

A principal mais-valia do PEPILSKIN é o “produto-base da formulação tópica e também as características da própria formulação para que seja aplicada de forma autónoma e indolor”, explicam os cientistas. O facto de estar baseado em péptidos e, por isso, isento de antibióticos convencionais, faz com que seja “menos provável o desenvolvimento de resistência microbiana”.

Para a equipa, o valor angariado no BIP Proof será fundamental para fazer avançar a tecnologia, aproximando-a ao mercado. “Tendo já sido demonstradas as ações antimicrobiana, cicatrizante, anti-inflamatória e antioxidante do nosso produto-base em feridas de ratinhos diabéticos, poderemos agora avançar para a criação de uma formulação (gel) adequada para aplicação precisa e indolor em feridas e que não cause reação adversa (dermatite de contacto) na pele saudável do paciente”, referem. Assim, os 10 mil euros serão aplicados na “otimização da formulação tópica, bem como na avaliação do seu potencial de indução de dermatite de contacto em pele humana”, concluem.

 

SIMIC: monitorização inteligente para comboios

 

 

 

O mercado da monitorização ferroviária é um setor, em rápido crescimento, impulsionado pelos avanços na engenharia ferroviária e pela crescente procura por operações eficientes, seguras e resilientes.  A adoção de tecnologias avançadas de Inteligência Artificial (IA), como a aprendizagem de máquinas, está a impulsionar o crescimento do mercado.

Nesse contexto, nasce o SIMIC, um sistema de monitorização inteligente concebido para “identificar situações de instabilidade do veículo e para avaliar o estado das rodas, separada ou simultaneamente”. A explicação é de Cecília Vale, investigadora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e uma das inventoras do SIMIC. Da equipa fazem parte também Araliya Mosleh, Andreia Meixedo, Ruben Silva, Pedro Montenegro, todos da FEUP, em colaboração com uma equipa do Instituto Superior de Engenharia do Porto, constituída por Diogo Ribeiro e Goreti Marreiros.

São várias as vantagens técnicas do SIMIC quando em comparação com as tecnologias existentes. Por um lado, permite que o dano e/ou a instabilidade dos veículos ferroviários seja detetada em fase inicial, o que possibilita a manutenção atempada “e evita a escalada de defeitos, garantindo-se a segurança das operações ferroviárias”, explica Cecília Vale. Depois, também permite uma “monitorização abrangente de condições anormais porque, além da deteção de defeitos, o SIMIC identifica eficazmente o tipo de defeito e localiza-o, aspetos cruciais para as equipas de manutenção”. Da lista de vantagens fazem parte também: a monitorização não intrusiva; a identificação de cargas desequilibradas; a instalação fácil e sem causar perturbações na circulação ferroviária; o baixo custo pela utilização de um número reduzido de sensores; a adaptabilidade para satisfazer necessidades específicas de um cliente, entre outras.

Com o valor angariado no BIP Proof, a equipa vai continuar a trabalhar no desenvolvimento do sistema de monitorização, de forma a aumentar o “TRL 4 para um TRL 5/6 no prazo de dez meses”, refere Cecília Vale. Vão investir também na redação e depósito do pedido definitivo de patente. “Este financiamento permite a maturação da tecnologia e a sua aproximação ao mercado nacional e internacional”, concluem os cientistas. 

 

UPWIND: alargar o acesso a energia acessível

 

“As necessidades de energia elétrica atuais não estão adequadamente satisfeitas em muitos locais onde a rede elétrica não está disponível ou é insuficiente”. Falamos, por exemplo, de comunidades remotas ou sítios com necessidades temporárias de eletricidade como construções, minas, ou locais de eventos. Os geradores a combustível que, por norma, são utilizados nestas situações, além de muito poluentes têm elevados custos de operação. 

Quem o afirma é a equipa de investigadores por trás do UPWIND, uma tecnologia que proporcionará energia elétrica de forma limpa, com portabilidade, baixo custo operacional e sem necessidade de reabastecimento de combustível. “Falamos de um gerador portátil e de rápida e fácil instalação para produção de eletricidade com base em energia renovável eólica”, apresentam.

O UPWIND baseia-se em sistemas aéreos de energia eólica, que permite captar a energia cinética do vento a grandes alturas “onde essa energia é frequentemente mais intensa e mais consistente”, explica Fernando Fontes, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e líder do projeto de investigação. “O objetivo é fornecer eletricidade onde ela não está disponível ou é insuficiente, oferecendo uma alternativa limpa e mais acessível do que os geradores a combustível”, acrescenta.

Da equipa UPWIND fazem parte também Luís Tiago Paiva, Manuel Fernandes, Sérgio Vinha, Rui da Costa, Conrado Costa e Gabriel Fernandes, todos da FEUP. Estão acompanhados por Dalila Fontes, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e por Luís Roque, do Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP. Para a equipa, estar entre os vencedores do BIP Proof representa a validação da ideia de negócio por especialistas. O prémio encoraja os cientistas a explorar a valorização económica do projeto e, por isso, vão aplicar o montante recebido para dar os primeiros passos necessários para a transição de ideia para negócio. 

Apesar de, como referem os cientistas, ainda haver muito a ser feito até se alcançar um produto comercializável, o UPWIND tem o potencial de “criar valor acrescentado significativo para a sociedade, contribuindo para um futuro mais limpo, equitativo e sustentável”, refere Fernando Fontes. Além disso, a utilização dos novos geradores permitirá “reduzir a dependência de combustíveis fósseis, alargar o acesso a energia acessível e contribuir para a resiliência energética, fomentando o desenvolvimento económico e social das comunidades beneficiadas”, concluem.

 

Sobre o BIP PROOF

O programa foi criado pela U. Porto Inovação em 2018 e, ao todo, já distinguiu um total de 38 ideias inovadoras com 440 mil euros. Esta é a 7ª edição do programa.

No arranque, e contando com o apoio do projeto U. Norte Inova, o BIP PROOF financiou seis projetos com 20.000 euros. Foi já nesse ano que a Fundação Amadeu Dias (FAD) se juntou ao BIP Proof, permitindo financiar mais quatro projetos com 10.000 euros para cada. A ligação da FAD ao programa manteve-se em todas as edições.

Nos ano seguintes repetiu-se a receita de sucesso: em 2019 foram distinguidos quatro projetos, cada um com 10 mil euros. Em 2020 o Santander Universidades juntou-se à iniciativa como patrocinador e foram eleitos seis vencedores, também com 10 mil euros. As edições seguintes (2021 2022) distinguiram 10 ideias inovadoras nascidas na U.Porto, contando com o apoio de projetos financiados (Spin-UP em 2021 e UI-TRANSFER em 2022) e também com o patrocínio da J.Pereira da Cruz em ambas as edições. O valor investido nessas duas edições ultrapassa os 100 mil euros.

A última edição aconteceu em 2023 e contou com o apoio da Fundação Amadeu Dias e do Santander Universidades. Seis projetos receberam 10 mil euros cada.

O principal objetivo do BIP Proof é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado.

Esta edição conta com o apoio da Fundação Amadeu Dias e da Caixa Geral de Depósitos.