Após dois anos de interrupção, o Biomeet, encontro anual do setor de Biotecnologia, regressou, enquadrado nas comemorações da Semana Europeia de Biotecnologia. Entre as tecnologias presentes e apresentadas, houve uma forte presença da Universidade do Porto, que se viu representada com sete projetos.

Uma das atividades dos dois dias de evento foi o Biomeet Invest, que contou com a presença de investidores (nacionais e internacionais), interessados em conhecer o sistema biotecnológico português e, eventualmente, investir em startups promissórias nesta área. Assim, o projeto REGENERA, da investigadora Ana Colette Maurício (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar) e a spin-off U.Porto FASTinov, fundada pela investigadora Cidália Pina Vaz (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) subiram, neste contexto, ao palco da conferência.

REGENERA é um projeto de investigação focado em células estaminais. Surgiu quando a equipa do ICBAS (Ana Colette Maurício na foto, à direita) foi confrontada com o dado de que perto de um terço dos cavalos de corrida termina a sua jornada com uma lesão grave que, na maior parte dos casos, nem a cirurgia consegue resolver. Partindo desse problema, o grupo de investigação começou a testar o uso de células estaminais e terapias celulares para promover a regeneração dos tecidos danificados, de modo a possibilitar uma cura mais rápida e eficiente, e permitindo que o cavalo volte a correr.

Também na área da saúde, a FASTinov é uma empresa spin-off da Universidade do Porto que lançou no mercado um kit de diagnóstico clínico que promete revolucionar a forma como os médicos prescrevem antibióticos. Permite determinar, em apenas 60 minutos, a suscetibilidade das bactérias aos antibióticos, aumentando a rapidez e eficiência do tratamento prescrito aos doentes que sofrem graves infeções. O novo kit, desenvolvido por investigadores da FMUP, foi patenteado com o apoio da U.Porto Inovação e licenciado pela Universidade do Porto à FASTinov. Nuno Afonso, na foto, à esquerda, representou a spin-off no Biomeet.

 

Um catálogo recheado de ideias “made in U.Porto”

Do catálogo de projetos presentes no evento constam também equipas da Universidade do Porto. São elas NextON (que participou no iUP25k, organizado pela U.Porto Inovação), Filter Cork e Vine2Fuel (ambos participantes da iniciativa BIP Acceleration) e BBIT20 e Skin Guard53, dois projetos de investigação liderados por Lucília Saraiva, da Faculdade de Farmácia da U.Porto, tendo sido o primeiro financiado numa edição anterior do programa BIP Proof, também iniciativa da U.Porto Inovação.

O composto BBIT20 é, como refere a investigadora da FFUP, “o primeiro supressor da recombinação homóloga capaz de inibir a interação BRCA1/BARD1”. Explicado de forma mais simples: a BR a BRCA1 é uma "proteína supressora tumoral com um papel chave na reparação de danos no DNA", explica Lucília Saraiva. Assim, a inibição da interação BRCA1/BARD1 conduz à perda de função da BRCA1 e à acumulação de erros nas vias de reparação do DNA. Em contexto clínico, a contínua reparação do DNA nos tumores está associada a quimioresistência e, portanto, ao insucesso das terapêuticas oncológicas. "Dados pré-clínicos em células tumorais de pacientes e em modelos animais comprovam o elevado potencial terapêutico desta molécula em cancros da mama e do ovário, principalmente quando comparado com o de outros agentes supressores da reparação de danos no DNA utilizados na clínica", refere a investigadora. Com base nos resultados obtidos, BBIT20 poderá representar um contributo muito valioso para a terapêutica personalizada destes cancros.

FilterCork, das investigadoras Ariana Pintor e Mariko Carneiro é uma forma de ratamento eficiente e sustentável de águas contaminadas com arsénio, utilizando granulados de cortiça. Já Vine2Fuel consiste em tratar e olhar para extratos de resíduos da poda da vinha, ricos em antioxidantes naturais, como uma alternativa sustentável para o futuro dos biocombustíveis. O projeto é de Andreia Peixoto, Elena Surra, Manuela Moreira e Olena Dorosh.

Por fim, mas não por último, também o projeto NextON Biosciences marcou presença na iniciativa Biomeet. Liderado por Ana Martins, Ana Pego, Ana Spencer, Pedro Moreno e Sofia Santos, todos eles investigadores do grupo «NanoBiomaterials for Targeted Therapies» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S), o NextON Biosciences visa o desenvolvimento de “uma ferramenta terapêutica inovadora baseada em RNA, com uma eficácia sem precedentes para o tratamento de cancros cerebrais agressivos”. O projeto ficou em segundo lugar no concurso iUP25k 2022.

O Biomeet 2022 teve lugar em Oeiras nos dias 19 e 20 de setembro. É organizado pela P-BIO, a Associação Portuguesa de Bioindústria.

Fotografias: Biomeet