O enfraquecimento da musculatura pélvica é um problema que afeta um elevado número de mulheres de diferentes idades, sobretudo depois de uma gravidez ou com a prática regular de desportos de alto impacto. Entre outras consequências, isso pode levar a quadros não só de incontinência urinária e incontinência anal, mas também de disfunção sexual. Neste tipo de condições, a fisioterapia é a primeira abordagem para aliviar os sintomas e reverter o problema, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. A abordagem em fisioterapia engloba a região abdomino-pélvica no seu todo, utilizando diferentes modalidades de intervenção, como é o caso da palpação manual bidigital. Esta é uma das técnicas utilizadas para fortalecer a musculatura do pavimento pélvico, sendo a mais dirigida para os músculos do períneo.
Apesar dos bons resultados que essa linha de tratamento pode trazer, Alice Carvalhais, investigadora da Universidade do Porto/INEGI, descobriu uma maneira de tornar esta terapêutica mais eficaz e mais confortável para o paciente e para o fisioterapeuta. Com a colaboração de Renato Natal Jorge, da Faculdade de Engenharia da U.Porto/INEGI, começou a desenhar as primeiras linhas de um sistema que atua internamente mas é acessível externamente, fazendo com que tanto o fisioterapeuta como o doente consigam monitorizar o exercício.
Feedback visual imediato permite exercício em casa
A ideia surgiu quando Alice Carvalhais, também docente no Instituto Politécnico de Saúde do Norte (Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa) estava numa sessão com uma paciente: “Dei por mim a pensar que ter um dispositivo que me permitisse aplicar uma resistência externa à contração da musculatura pélvica, onde pudesse ir adicionando ou removendo peso conforme a necessidade, objetivamente quantificado, e que ainda me permitisse monitorizar a qualidade da contração, me facilitaria e melhoraria o trabalho”, refere. A utilização do dispositivo, conta a investigadora, é “muito fácil e intuitiva”, e permite fazer ajustes adequados, e em tempo real, para que a intervenção seja o mais orientada possível às necessidades individuais de cada paciente, como um “fato feito à medida”. Uma das principais vantagens é a obtenção de feedback visual imediato, fazendo com que paciente e fisioterapeuta consigam perceber, no momento, se é necessário ajustar a carga utilizada, adaptando de imediato a terapia ao objetivo da intervenção
Esta é uma questão importante, até porque este tipo de condições relacionadas com a região pélvica ainda podem levantar constrangimentos em algumas mulheres. O dispositivo desenvolvido na U.Porto/INEGI pode ser utilizado autonomamente pelas pacientes, em casa, sem que isso prejudique a eficácia da terapia, pois é imediatamente percebido se o exercício está a ser realizado corretamente ou não. E não é preciso removê-lo para efetuar as mudanças de carga necessárias à evolução da terapia. Os investigadores acreditam que esta autonomia será um passo importante para encorajar cada vez mais mulheres a procurar uma solução para o seu problema.
O dispositivo está orientado para tratamento e prevenção da incontinência urinária, mas também da disfunção sexual – dois problemas que as alterações da musculatura pélvica podem provocar. Além das vantagens enumeradas acima, este aparelho permite que se “alcancem os objetivos pretendidos num espaço de tempo mais curto, pois temos num só dispositivo a possibilidade de monitorizar vários parâmetros da função dos músculos do pavimento pélvico e treinar diferentes tipos de força com diferentes tipos de contração”, refere Alice Carvalhais.
Atualmente, os investigadores estão focados em construir um novo protótipo e, para tal, encontram-se em busca de financiamento. Segundo Alice Carvalhais, é importante que esse protótipo seja “visualmente mais apelativo e que inclua tecnologia simples, permitindo chegar a pacientes cujo perfil esteja mais familiarizado com dispositivos tecnológicos”. O objetivo final é a entrada no mercado para que o dispositivo chegue rapidamente às pacientes que sofram com estas condições. Rematando, Alice Carvalhais refere que o seu sonho é “ver o produto disponível no mercado nacional e internacional e conseguir que o modelo básico do dispositivo, que é puramente mecânico, fique disponível em países em vias de desenvolvimento”, onde o acesso a terapias deste género é muito escasso.