Existe uma grande incidência de lesões de tendões e ligamentos em todo o mundo, quer em jovens quer em idosos. Encontrar soluções eficientes para tratar essas lesões, levando a uma recuperação total do paciente, nem sempre é fácil. Tendo isso em conta, Maria Ascensão Lopes, docente e investigadora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), arregaçou as mangas e procurou saber o que mais poderia ser feito nesse campo.
“A ideia surgiu de conversas regulares que tenho com professores e médicos ortopedistas da Faculdade de Medicina da U.Porto, a quem costumo perguntar como um engenheiro pode contribuir para a solução dos seus atuais problemas clínicos”, refere. Assim, a investigadora teve conhecimento que em alguns casos de lesões em tendões e ligamentos não existe, de facto, uma abordagem de tratamento eficiente, sendo que as soluções que têm surgido no mercado demonstram um fraco desempenho a médio/longo prazo.
Assim sendo, a equipa liderada Maria Ascensão Lopes – da qual fazem parte Rui Guedes e Diana Morais, também da FEUP, Raúl Fangueiro e Juliana Cruz, da U.Minho, e Tiago Pereira, do ICBAS – desenvolveu estruturas fibrosas biocompatíveis capazes de mimetizar o desempenho mecânico in vivo de alguns tendões/ligamentos. Essas estruturas podem ser usadas “como dispositivo prostético e substituir parcialmente a função do tendão ou ligamento”, refere.
Para se chegar ao resultado pretendido, a equipa de investigadores baseou-se numa arquitetura “core/shell”, que permite melhor desempenho mecânico. As estruturas fibrosas biocompatíveis desenvolvidas por esta equipa de cientistas podem ser utilizadas, por exemplo, em lesões do ligamento cruzado anterior ou do tendão de Aquiles, uma vez que permitem “atingir os níveis de carga, rigidez, fluência e resistência à fadiga adequados para estas aplicações”, conta Maria Ascensão Lopes.
Além disso, outra das vantagens desta invenção é o revestimento das estruturas: o revestimento interno é bioativo e o revestimento externo pode ser passivo. O que significa isso? Se, por um lado, o revestimento interno permite estimular o povoamento celular, ao mesmo tempo o revestimento exterior desta inovadora “prótese” pode ser antiaderente, o que é muito importante em algumas localizações anatómicas para evitar aderências com os tecidos envolventes. A combinação destes dois fatores é, como refere Maria Ascensão Lopes, o que permite “uma melhor integração a médio/longo prazo” destas estruturas, contribuindo para uma recuperação mais eficiente da lesão.
Próximos passos
A U.Porto Inovação desenvolveu desde logo esforços de proteção desta invenção, existindo pedidos de patente a nível nacional e também internacional. Também já se deu início a um eventual processo de comercialização da patente e já existem empresas interessadas.
“Mal a U.Porto Inovação começou a divulgar a nossa tecnologia surgiram logo algumas empresas de dispositivos médicos da área da ortopedia interessadas nas nossas estruturas”, refere a investigadora. Neste momento, a equipa está concentrada em finalizar os ensaios pré-clínicos em modelo animal para que depois, sim, se possa passar para a fase de “valorizar melhor o conhecimento desenvolvido”, conclui.