“Somos uma das empresas com maior crescimento a nível mundial no setor da purificação de biogás”. São palavras de Patrick Bárcia, da SYSADVANCE, uma empresa spin-off da Universidade do Porto. Uma das principais tecnologias que disponibiliza para o mercado chama-se METHAGEN AD e chegou, recentemente, à empresa Bovogas, que detém uma unidade de produção de biometano na Letónia. Em julho deste ano a SYSADVANCE marcou presença na inauguração, onde teve a oportunidade de dar a conhecer a METHAGEN AD aos convidados. A tecnologia tem sido uma valiosa ajuda para que a Bovogas seja a primeira a injetar biometano na rede.

“O nosso cliente é produtor de ovos de galinha e derivados, e tem um aviário com mais de 3,5 milhões de aves”, explica Patrick Bárcia. Essas aves produzem, anualmente, 70 mil toneladas de um resíduo chamado cama de aves. A Bovogas consegue valorizar esse resíduo “numa unidade de digestão anaeróbia que produz biogás, uma mistura de metano, dióxido de carbono, vapor de água, sulfureto de hidrogénio, amónia, e algum residual de oxigénio e azoto, entre outros contaminantes”, explica. O processo METHAGEN, tecnologia desenvolvida pela SYSADAVANCE, permite eliminar cada um desses contaminantes de modo a “entregar metano renovável com poder calorífico equivalente ao gás natural fóssil”, contam. Esse biometano é depois introduzido na rede de gás natural, em postos de injeção que monitorizam continuamente a qualidade.

Numa primeira fase, a central de produção da Bovogas injeta na rede de gás o equivalente a 100 GWh de gás por ano o que, como referem os representantes da SYSADVANCE, “é suficiente para suprir o consumo do município de Bauska, na Letónia, onde a central está inserida”. Atualmente esta central está a produzir 6 milhões de m3 de biometano para injeção na rede, devendo atingir em breve uma produção anual de 12 milhões.

E quais as vantagens do biometano?

São quatro as características fundamentais: é um recurso endógeno, renovável, não intermitente e armazenável. Isto é, “a criação de uma fileira do biometano tem desde logo impacto na redução das importações de combustível”, refere Patrick Bárcia. Além disso, permite fomentar “a valorização dos resíduos, resolvendo um problema ambiental e contribuindo para a criação de um novo setor de atividade, gerador de empregos especializados”. Devido à sua natureza endógena, o biometano trará benefícios também para o interior do país, “normalmente mais afastado dos grandes investimentos”, referem.

“A invasão da Ucrânia pela Rússia veio acelerar ainda mais este processo de transição para os gases renováveis, como forma de reduzir a dependência energética da Europa”, refere Patrick Bárcia. Na sua opinião, “há uma consciencialização geral da importância de um rápido scaling-up da produção de biometano na Europa. No fundo, estamos a converter resíduos - potencialmente geradores de impacto ambiental - numa fonte endógena de energia primária e consequente criação de valor, e isto são argumentos demasiado fortes e sólidos para serem contrariados por eventuais alterações de política energética”, diz.

Assim, a presença da SYSADVANCE neste setor, em mercados como o dos países Bálticos ou Estados Unidos, tem sido cada vez mais forte, fruto do “reconhecimento da tecnologia METHAGEN por parte dos clientes da empresa”, diz Patrick Bárcia. Foi em 2017 que instalaram a primeira unidade de purificação de biogás em Portugal e logo no ano seguinte iniciaram a injeção de biometano num projeto de grande dimensão na Califórnia, onde foram a primeira empresa a cumprir com uma regulamentação muito exigente no que refere aos padrões de qualidade do gás, conhecida como “Rule 30”. 

Desde então, a empresa foi aperfeiçoando cada vez mais os processos, adaptando-se às novas exigências do mercado em termos de eficiência energética e requisitos de qualidade. Este projeto na Letónia faz parte do caminho que a SYSADVANCE tem vindo a traçar, e implica um trabalho contínuo de acompanhamento. Apesar de as unidades de purificação de biogás serem os pontos centrais, existem desafios desde o processamento dos resíduos até à injeção na rede de gás. “O nosso trabalho não se extingue com a instalação e arranque da unidade de purificação. A equipa de engenharia e automação da SYSADVANCE trabalhou em relação próxima com o construtor da unidade de digestão e com a operadora do posto de injeção, de modo a proceder à partilha de sinais e comandos entre as várias unidades para permitir um controlo e uma monitorização transversal de toda a instalação”, conta Patrick Bárcia.

E tudo é possível, como refere, graças ao trabalho de uma equipa “de engenheiros e técnicos altamente competentes, que têm como estímulo acrescido o facto de contribuírem diariamente, com o seu trabalho, para a transformação do panorama energético no sentido da criação de uma economia mais sustentável tanto a nível económico como ambiental”, diz Patrick Bárcia. 

Sobre a SYSADVANCE

A SYSADVANCE – Sistemas de Engenharia, S.A. é uma empresa de base tecnológica, que desenvolve e fabrica equipamentos e processos para a separação de gases e fornece soluções integradas para produção in situ de N2, O2, O2 Médico e O2 VSA, e purificação de Biogás, He, H2 e SF6.

Foi fundada em 2002, dentro da Universidade do Porto, e classificada como spin-off FEUP (Faculdade de Engenharia da U.Porto). Em 2017 recebeu também a chancela U.Porto Spin-off. Desde então, a empresa registou um crescimento significativo e contínuo, como resultado da sua estratégia focada na satisfação do cliente. Com pessoal técnico altamente qualificado, a SYSADVANCE esforça-se por fornecer tecnologia de ponta aos seus clientes em mais de 40 países, em diferentes indústrias e setores de atividade.

No que refere à produção de gases renováveis, preveem terminar o segundo trimestre de 2025 com 36 instalações em operação em mais de 10 países, o que corresponderá a uma capacidade instalada para produção de gás renovável superior a 1 TWh. Patrick Bárcia explica: “Para terem uma ideia, 2,7 TWh é o objetivo fixado no “Plano de Ação para o Biometano” para produção de biometano em Portugal em 2030. Estamos confiantes que, graças à experiência internacional adquirida ao longo dos anos neste setor, poderemos dar ao país um grande contributo para alcançar, ou até mesmo antecipar, as metas fixadas para o biometano.”