Sofia Varge já trabalhava na Reitoria da Universidade do Porto quando se começou a falar da necessidade de criar um serviço como a U.Porto Inovação. Assim, além de ter sido uma das primeiras colaboradoras oficiais da equipa, também participou ativamente no desenho do que viriam a ser as bases e principais atividades da equipa.

Acabou por ficar na U.Porto Inovação durante doze anos, onde trabalhou com inúmeras pessoas e em diferentes projetos, depois de ter começado numa equipa de “apenas” três. Nos dias que correm, Sofia considera “fundamental para a Universidade do Porto que haja um serviço que apoie a dita cadeia de valor da inovação”.

 

1. Porque se sentiu a necessidade de criar a U.Porto Inovação?

Já estava na Reitoria da Universidade do Porto quando surgiu a ideia da criação desse serviço.

Na altura, estava a fazer um estágio no serviço de relações internacionais, em regime de voluntariado – ofereci-me para ajudar na implementação de algumas atividades porque, sendo a minha área de formação, queria ganhar alguma experiência profissional. Soube que havia um serviço em desenvolvimento que procurava recursos humanos com um nível académico adequado para começar a crescer e que, ainda de forma tímida, procuravam pessoas “da casa”, pois preferiam alguém que já conhecessem a forma de funcionamento. Propus-me para a entrevista e comecei a trabalhar lá logo no início do ano de 2004. 

Na altura ainda não existia oficialmente a UPIN, mas sim o GAPI da Universidade do Porto. Os GAPI (Gabinetes de Apoio à Propriedade Intelectual) estavam enquadrados em financiamentos estatais, atribuídos, por via de candidatura, para fazerem a gestão das patentes, como resposta ao incentivo nacional de promover e divulgar a importância do uso da Propriedade Industrial e Intelectual. Apesar da parca procura, na altura, deste tipo de serviços pela própria universidade, a participação nesta rede permitia à Universidade do Porto fazer algum investimento nas tecnologias desenvolvidas e que, por falta de financiamento, não tinham possibilidade de se impor no mercado. 

 

2. Foi fácil o processo? Como se desenrolou?

Fui contratada para fazer face a outro tipo de necessidade: o apoio na preparação e submissão de candidaturas a projetos de investigação. Visto que este tipo de serviços era ainda uma novidade no seio da universidade, a ideia era pensar numa data de inauguração que permitisse uma apresentação pública e que desse a conhecer aquilo que passaríamos a oferecer. 

No dia 15 abril de 2004 fez-se o lançamento do serviço, ancorado no apoio aos projetos e às patentes, numa apresentação no auditório da Reitoria, na altura sediado na Rua D. Manuel II.

O processo, tanto quanto me lembro, foi lento, na medida em que só mais tarde foi feita a apresentação da UPIN a todos os diretores das faculdades e percorreu-se um longo caminho até que se fosse percebendo a utilidade do que se podia oferecer. Também porque, sendo aquele o gabinete que tinha dado origem ao serviço, as patentes, não havia ainda uma grande sensibilização e muitas das tecnologias desenvolvidas não tinham, por defeito, em vista o mercado nem, em consequência, a sua proteção. 

A mentalidade que predominava era outra: os resultados dos trabalhos de investigação ficavam escondidos, porque patentear era inalcançável para a maioria. Custos de submissão e manutenção dos direitos, bem como da gestão dos prazos, era algo que não era contemplado nos centros de investigação, ficando reservados apenas para os trabalhos mais visíveis. 

 

3. Como era constituída a equipa e por que tarefas/projetos começaram?

Éramos três na equipa. Sob a alçada do Professor Marques dos Santos, na altura vice-reitor da U.Porto e responsável pelo IRICUP (Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns), contava-se com a coordenação do António Teixeira, com a Ana Casaca e comigo. O António Teixeira acabou por deixar a UPIN pouco depois, abraçando outro desafio. Fiquei apenas eu e a Ana, durante alguns meses, até a equipa começar a crescer.

Eu comecei por trabalhar na área dos projetos, dando apoio a programas nacionais, da FCT, e ao 7.º Programa-Quadro, da Comissão Europeia, a nível internacional. A minha missão inicial era conhecer os maiores centros de investigação da U.Porto, saber como funcionavam nestas funções de apoio a projetos. Também fui enviada para a Comissão Europeia, com vista à criação de uma rede de contactos, para melhor “olear” os processos de esclarecimentos em potenciais submissões de projetos. 

 

4. Quais as maiores dificuldades?

As maiores dificuldades foram as de dar a conhecer o serviço e explicar que, mais do que uma oportunidade, era uma necessidade. 

 

5. Como vê a importância da U.Porto Inovação nos dias que correm?

A U.Porto Inovação ganhou uma dimensão que ultrapassa largamente os seus objetivos iniciais. 

Parece-me ser mais do que uma necessidade e uma oportunidade: é fundamental para a Universidade do Porto que haja um serviço que apoie a dita cadeia de valor da inovação que, entretanto, se tornou uma área de grande visibilidade, sobretudo a nível nacional, bem como outras áreas que desenvolveu, como o apoio ao empreendedorismo, no qual ainda tive oportunidade de participar. 

 

6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?

Afastada há alguns anos do trabalho da U.Porto Inovação, tenho alguma dificuldade em opinar.

Arrisco apenas a dizer que deve continuar a crescer e fazer o bom trabalho, que parece ser evidente para quem assiste de fora. A ligação com o mercado de trabalho é fundamental para o crescimento saudável da Universidade e a cooperação entre serviços deve ser explorada, para potenciar ao máximo todos os recursos que estão ao dispor, não só dos estudantes, mas da comunidade em geral.