Chama-se Lipowise e trata-se de um dispositivo que, ao medir a espessura das pregas cutâneas, permite saber a localização e a percentagem da gordura corporal de forma prática e eficaz, numa era em que a obesidade, o excesso de peso e a malnutrição são algumas das principais preocupações da Organização Mundial de Saúde. A tecnologia foi totalmente pensada e desenvolvida na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e, em finais do ano passado, deu origem à Wisify Tech Solutions.
Como referem Ricardo Moura, CEO da empresa, e Tiago Andrade, um dos inventores da tecnologia, “existe evidência científica que relaciona o excesso de gordura corporal com 50% das doenças crónicas”. Pode ser responsável por aumentar as doenças cardiovasculares, a diabetes tipo 2, a hipertensão arterial, entre outros, o que faz com que todas as soluções para prevenir problemas sejam bem-vindas.
Apesar da necessidade de medir e avaliar para precaver, não existe atualmente nenhuma maneira simples de “avaliar a evolução da gordura corporal em zonas específicas do corpo”, refere Ricardo Moura, a não ser através de lipocalibradores que meçam as pregas cutâneas. No entanto, e apesar de esta ser uma técnica económica, segura e não-invasiva, acaba por ser pouco prática e expedita pois não regista nem calcula dados automaticamente, tendo o operador de memorizar os valores obtidos, estando sempre sujeito ao erro de cálculo ou ao simples erro humano.
“Apesar de existirem há dezenas de anos, os lipocalibradores existentes não passaram por progressos suficientes, sofrendo de várias limitações”, refere Ricardo Moura. E foi a fim de superar muitos destes problemas que foi desenvolvido o Lipowise, no qual foram introduzidas “técnicas e tecnologias de conectividade e precisão da medição”. Ou seja: não deixa de ser um lipocalibrador seguro para todos os tipos de pacientes, não-invasivo e de baixo custo, mas com a enorme vantagem de permitir a automatização do protocolo de medição com uma margem de erro abaixo dos 3% (os lipocalibradores tradicionais apresentam erros de 15% a 40% no que diz respeito à pressão constante, diz-nos Ricardo Moura). Além disso, apresenta outra característica “inovadora e única no mundo: a capacidade de análise dinâmica da compressibilidade dos tecidos, o que permite a avaliação da evolução da consistência dos mesmos nas localizações tratadas. Isto pode ser muito importante para a área da Medicina Estética”, refere o CEO.
Da tecnologia às empresas
O Lipowise tem já patentes concedidas em Portugal, Estados Unidos e vários países europeus. Tiago Andrade (um dos fundadores da Wisify) é coinventor da patente, juntamente com Teresa Restivo (FEUP), Manuel Quintas (FEUP), Carlos Moreira da Silva (FEUP), Fátima Chouzal (FEUP) e Teresa Amaral (FCNAUP).
Em janeiro de 2018 Ricardo Moura e Tiago Andrade levaram o Lipowise até Boston, onde participaram na missão “Boston Global Immersion” (progeama liderado pela Building Global Innovators e MIT Portugal). Durante essa jornada, a tecnologia foi uma das selecionadas com o objetivo de prospeção de interesse comercial com investidores, e surgiram aí as raízes para o modelo de negócio a implementar. Na segunda metade de 2018, nasceu a empresa Wisify Tech Solutions pela mão dos dois empreendedores.
O lipocalibrador, que durante muito tempo esteve nas mãos da Metablue – empresa spin-off da Universidade do Porto da qual Ricardo Moura faz parte – foi cedido à recém-criada Wisify através de um contrato de exploração exclusivo da patente. Tendo em conta esta ligação criada por via da Metablue, Ricardo Moura refere que o processo foi uma “sequência de passos naturais, tendo havido sempre uma grande abertura e suporte por parte da Universidade do Porto”.
Teresa Restivo orgulha-se, por sua vez, de ter sido possível “criar algo que nasceu de exercícios de pensar o conhecimento, de criatividade, de amadurecimento, de concretização e persistência”. Para a docente e investigadora da FEUP esta é a missão da universidade: “contribuir para a sociedade através de formação dos jovens e da investigação. A reunião desses aspetos assume expressão quando, como é aqui o caso, de uma investigação aplicada se chega até um protótipo que dá origem a um contrato de licença para desenvolvimento de uma tecnologia”, conclui.
Neste momento a Wisify encontra-se a ultimar o desenvolvimento da sua plataforma Cloud, que servirá de base à integração das diferentes tecnologias do seu portfolio: “Podem ser de cariz médico, desportivo, nutricional, o que cria conteúdos e apps de interesse tanto para clientes como para prestadores de serviços”, referem os membros da empresa. Estão também na fase final de desenvolvimento do Lipowise Light, uma versão low-cost do produto original. Ricardo Moura refere que os processos estarão concluídos no final de abril, data em que pretendem, oficialmente, “começar a comercialização dos produtos”.