É uma carreira que já vai longa e, também por isso, rica em descobertas, experiências e, sobretudo, aprendizagem sobre diferentes temas. Desde o início dos trabalhos de investigação na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, em 1976, até ao início da carreira académica como Assistente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), passaram apenas dois anos.
Hoje, Maria da Conceição Rangel divide-se entre as aulas que dá no ICBAS e a investigação aplicada nessa faculdade e também no LAQV-REQUIMTE. Desde criança que se assume como "muito curiosa relativamente aos fenómenos da vida", e apesar de na altura não se falar tanto em investigação, a verdade é que o percurso que tem vindo a criar acabou por ser moldado por essa paixão.
Formada em Química, a sua investigação foca-se na vertente Bioinorgânica da disciplina. “Quando acabei o curso, das conversas com os meus colegas da área da Medicina e da Biologia no ICBAS percebi que ter uma formação sólida numa ciência exata, em particular na área da química dos metais de transição e da espectroscopia, era muito importante para resolver problemas na área da Biomedicina”, conta a investigadora.
Assim, e fazendo jus a uma vontade que sempre esteve presente – a de contribuir, de alguma forma, para descobertas relacionadas com a área da saúde – Maria da Conceição Rangel conseguiu juntar os seus interesses na Bioinorgânica.
"Ser inventora na U.Porto é muito gratificante"
Sendo parte da família há mais de 40 anos, Maria Conceição Rangel considera o convívio com outros investigadores e estudantes uma das mais-valias da Universidade do Porto: “O meu trabalho é muito interdisciplinar e aprecio muito trocar ideias com pessoas e grupos de investigação de áreas diferentes”, refere. Assim, ao explicar certas questões e ao perceber os problemas dos outros, não raras vezes surgem oportunidades “em que os grupos se podem complementar para resolver um problema num determinado campo”, diz a investigadora.
Além disso, Maria da Conceição Rangel salienta ainda o trabalho dos departamentos da Universidade. Tendo submetido este ano a sua primeira comunicação de invenção à U.Porto Inovação, com o objetivo de patentear uma invenção relacionada com fertilizantes (eventual pedido de patente ainda está em análise), a investigadora teve a oportunidade de contactar com a equipa pela primeira vez: “Tem sido uma experiência excelente. Tenho aprendido imenso e o apoio e colaboração têm sido ótimos”, conta.
O trabalho em questão é o projeto FERPLANT – novos fertilizantes para tratar a clorose férrica, uma condição que afeta muitas culturas agrícolas, nomeadamente a soja e os citrinos, devido à ausência de ferro. Maria Conceição Rangel acredita que “plantas saudáveis e nutricionalmente equilibradas têm um impacto direto na saúde e na sustentabilidade do planeta” e, por isso, tem usado uma nova classe de compostos de ferro para produzir novos fertilizantes, mais eficazes e sustentáveis. O trabalho é em colaboração com uma investigadora da Universidade Católica Portuguesa, Marta Vasconcelos, e as cientistas revelam que os primeiros resultados foram muito bons, tendo sido identificados já “dois compostos com elevado potencial”.
A fase seguinte passa pelos ensaios em condições diferentes, pela experimentação das várias vias de aplicação e por compreender o mecanismo de ação, tudo aspetos em que as investigadoras se encontram a trabalhar neste momento. No entanto, Maria da Conceição Rangel revela existirem já empresas interessadas nestes novos fertilizantes: “Estou confiante que vamos conseguir colocar um produto no mercado”, conclui.