A EIT Health, considerado o maior consórcio da área da saúde no Mundo, lançou recentemente uma Innovation Call com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento do ecossistema inovador europeu. De entre as dezenas de candidaturas, foram selecionados apenas 15 projetos, dois dos quais com o selo da Universidade do Porto.
ADHERENCE e Libra são os nomes dos projetos distinguidos, cujas equipas incluem tanto investigadores como empreendedores da U.Porto. Com o financiamento angariado, que pode ascender a 75 mil euros, ambos ambicionam conseguir ajudar a dar resposta a dois dos maiores problemas de saúde mundiais: a hipertensão arterial e a obesidade.
O ADHERENCE está a ser desenvolvido pela MEDIDA (spin-off U.Porto) e pelo CINTESIS. Centrado na problemática da hipertensão arterial, o objetivo do projeto é criar uma app de apoio ao tratamento da hipertensão e que poderá ser instalada no smartphone do paciente.
Recorrendo à câmara fotográfica do smartphone, a aplicação será capaz de captar os valores de pressão arterial indicados no ecrã do aparelho. A partir desses dados, permite registar o esquema de tratamento e emitir alertas para que o utilizador tome a medicação e meça regularmente a pressão arterial de forma a controlar a sua condição. Ao mesmo tempo, a app também identifica a quantidade de comprimidos retirados de um blister.
A hipertensão arterial afeta cerca de dois em cada cinco adultos em Portugal, sendo que, destes doentes, apenas cerca de 40% estão controlados. Segundo os responsáveis do ADHERENCE, uma das principais razões para a falta de controlo da hipertensão é a baixa adesão à terapêutica, sendo necessário desenvolver novas ferramentas de apoio ao tratamento das doenças crónicas. "Este projeto integra-se na estratégia da MEDIDA e do grupo de investigação PaCeIT, do CINTESIS, de desenvolver e validar tecnologias para as pessoas com doenças crónicas, principalmente respiratórias e cardiovasculares, que apoiem a automonitorização e auto-gestão guiadas", refere João Fonseca, cofundador da MEDIDA. O empreendedor, docente e investigador da Faculdad de Medicina da U.Porto, acrescenta ainda que a pandemia COVID-19 veio reforçar a "necessidade de serviços de saúde digital que permitam um melhor acompanhamento à distância", sendo o ADHERENCE um contributo nesse sentido.
A app desenvolvida por esta equipa da MEDIDA e do CINTESIS permitirá, então, quantificar a adesão à terapêutica e gerar relatórios automáticos dos valores de pressão arterial, que o utilizador poderá partilhar de forma segura com a equipa de saúde. O destino do financiamento agora angariado é, a curto prazo, desenvolver o protótipo da aplicação, criando alguns elementos multmédia de apoio à auto-gestão da doença. Depois, na fase seguinte, a equipa pretende "testar a efetividade da app na melhoria da adesão à medicação antihipertensora e no controlo da tensão arterial em ambiente de "vida real" em doentes com tensão arterial de difícil controlo.
Inovar contra a obesidade
O projeto LIBRA, por sua vez, tem o foco num outro grande problema de saúde mundial: a obesidade. Segundo dados recentes, esta condição tem atingido proporções epidémicas, afetando mais de 650 milhões de pessoas em todo o mundo, ficando atrás apenas do tabagismo como a causa mais significativa de morte prematura.
Foi com estes dados em mente que a equipa composta por empreendedores da Promptly (spin-off da U.Porto e investida pela multinacional Proef), e investigadores da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), do CINTESIS e do Centro Hospitalar Universitário de São João, desenvolveu uma plataforma social digital para melhorar o acompanhamento dos resultados clínicos dos doentes com obesidade, usando estratégias sociais de engagement do doente, dados de dispositivos conectados e comunicação remota com profissionais de saúde.
“O objetivo é que o doente se sinta cada vez mais envolvido no seu processo de tratamento e recuperação e, como tal, contribua ativamente para a melhoria dos seus próprios resultados clínicos”, referem os promotores Pedro Ramos e John Preto, acrescentando que este financiamento do EIT Health virá amplificar o trabalho conjunto na área tecnológica.
Para isso, e aumentando o nível de envolvimento dos doentes, a plataforma irá oferecer acompanhamento profissional remoto e sem interrupções, juntamente com funcionalidades de ambiente social como chats, fóruns de discussão, sugestão de utilizadores com os mesmos interesses, ou partilha de metas e objetivos terapêuticos.
Os dados recolhidos sobre os resultados clínicos, nomeadamente sob a perspetiva do próprio doente (patient reported outcomes), serão depois utilizados para continuar a melhorar os cuidados prestados aos doentes e a “inovar no modelo de autonomia de gestão, do qual o CRIO CHUSJ é pioneiro em Portugal”, destacam os responsáveis pelo projeto.
O financiamento assegurado por esta Innovation Call servirá para validar o modelo em Portugal e, a partir de 2021, para o scale-up europeu, nomeadamente no seio da EIT Health, no qual a equipa pretende “envolver outros centros europeus de referência no tratamento em obesidade, sob a coordenação do CRIO CHUSJ”, concluem os promotores.
Para além dos dois projetos da U.Porto, a EIT Health distiguiu ainda um outro projeto da região do Porto. Desenvolvido por uma equipa da Fraunhofer Portugal e da Escola Superior de Enfermagem do Porto, o projeto FRADE visa desenvolver e testar uma plataforma tecnológica para deteção de quedas e prevenção dos riscos das mesmas, principalmente junto de idosos.
Além dos até 75 mil euros de financiamento para completar os seus planos de trabalho, os projetos vão receber apoio constante do EIT Health Hub Universidade do Porto durante a implementação dos projetos. Assim, poderão usufruir não só de mentoria mas também das ligações que o Hub tem com parceiros nacionais e internacionais.