Joana Resende foi responsável pela U.Porto Inovação entre 2020 e 2022, durante o seu mandato de Pró-Reitora da Universidade do Porto para o Planeamento, Empreendedorismo e Transferência de Conhecimento.
O período em causa, em que uma pandemia se abateu sobre o mundo, foi desafiante para todos. Joana Resende destaca esse facto, referindo que um dos maiores objetivos do seu mandato, na altura, foi “criar as condições necessárias para continuar a dinamizar a inovação na U.Porto” em contexto de afastamento, sem contacto presencial.
“Em termos globais, foi um mandato muito marcado pelas restrições da pandemia, e por isso muito desafiante. Obviamente permanecem muitos desafios em aberto, mas creio que fomos dando, em conjunto, importantes passos para avançar na resposta a esses desafios.”, refere.
1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse?
Em 2020, quando cheguei à U.Porto Inovação, encontrei uma unidade com uma missão bem definida, cujo valor era já muito reconhecido na comunidade académica. Na altura a U.Porto Inovação já se destacava pelo alargado portfolio de atividades de apoio a toda a cadeia de valor da inovação na nossa Universidade.
Em particular, estavam já bem definidos os seus grandes eixos de atuação: proteção da propriedade intelectual, empreendedorismo e apoio à colaboração academia-indústria. A U.Porto Inovação era já amplamente reconhecida como um catalisador de inovação, sendo já muito visíveis os resultados de um longo caminho da Unidade na sensibilização da comunidade para a importância da proteção da propriedade intelectual, no desenvolvimento de programas de capacitação para a inovação e empreendedorismo (e.g. BIP, BIP Proof), na animação à comunidade inovadora da U.Porto (e.g. iUP25k, IJUP Empresas) e na dinamização da comunidade empreendedora (e.g. The Circle, Enterprenow).
Foi por isso um motivo de enorme orgulho poder estar à frente desta Unidade tão revelante e ter a oportunidade de trabalhar com pessoas altamente qualificadas e que nos inspiram com o trabalho que desenvolvem.
2. Quais eram as suas expectativas para a equipa e para o trabalho a desenvolver?
Foi com grande expectativa que cheguei à U.Porto Inovação. No contexto dos trabalhos de planeamento estratégico, era já clara para mim a relevância que a inovação tem na construção de uma universidade capaz de assumir um papel de centralidade na construção de uma sociedade (e de uma economia) baseada no conhecimento. Como tal, considerei que a passagem por esta Unidade, seria uma excelente oportunidade para conhecer em primeira mão o nosso ecossistema de inovação e desenvolver ações que contribuam para a sua consolidação.
A possibilidade de trabalhar com uma equipa dinâmica e proativa como esta foi sem dúvida um fator de motivação adicional. Por tudo isto, cheguei com a expectativa de que iria aprender muito, o que realmente veio a verificar-se.
3. Que objetivos conseguiu alcançar e quais ficaram pelo caminho?
Um dos grandes objetivos da passagem pela U.Porto Inovação prendia-se com a valorização económica das nossas tecnologias. Nas últimas décadas, fruto do trabalho de muitas gerações de profissionais que foram passando pela U.Porto Inovação (alguns dos quais ainda lá estão), a Unidade conseguiu um notável desempenho na constituição de um portfólio de patentes sólido, não só no contexto nacional mas sobretudo no contexto internacional. Esse facto, é hoje reconhecido de forma generalizada e deve deixar-nos a todos muito orgulhosos. Contudo, ainda temos muitos passos a dar para monetizar o valor económico subjacente a estas tecnologias.
Naturalmente, não é expectável que todas as tecnologias possam ter sucesso comercial, mas o excelente trabalho desenvolvido, quer pela comunidade de inovação, quer pela equipa da U.Porto Inovação, justificaria que pudéssemos ter ido mais longe nestas matérias. Infelizmente durante o período que acompanhei a U.Porto Inovação não foi possível ir tão longe quanto eu teria gostado nesta matéria, mas deram-se passos relevantes, com a identificação de formas mais ágeis de gestão dos atos administrativos relacionados com as patentes, o apoio ao programa BIP Proof (Programa de Provas de Conceito), com o objetivo de apoiar as tecnologias na subida dos seus TRLs e diversos projetos e programas de capacitação (quer de natureza transversal, quer em verticais especializados, como a saúde ou os oceanos).
Infelizmente durante o período que passei na U.Porto Inovação, não foi possível fechar nenhum “negócio milionário” mas mesmo assim creio que o caminho foi sendo construído e que num futuro mais ou menos longínquo ainda terei oportunidade de ver esses negócios a concretizarem-se.
Adicionalmente, gostava ainda de destacar alguns objetivos de natureza mais específica mas que, de alguma forma marcaram a minha passagem pela U.Porto Inovação. Ao nível da atividade da Unidade, é importante referir que acabei por acompanhar a Unidade durante o período da pandemia e, como tal, um dos grandes objetivos definidos (em articulação com todas as estruturas da U.Porto) visava criar as condições necessárias para continuar a dinamizar a inovação na U.Porto.
Desse ponto de vista, organizamos múltiplas atividades online (e.g. Sessões A2B) ou híbridas (e.g. Entreprenow), continuamos a executar todos os atos administrativos para garantir a proteção de patentes e submetemos múltiplas candidaturas a projetos com alinhamento com a nossa atividade. Um dos objetivos deste período foi também o de consciencializar os decisores políticos e institucionais sobre o financiamento às atividades de inovação em Portugal, tendo a U.Porto Inovação participado numa plataforma nacional, criada com esse mesmo objetivo e com representação das principais congéneres das diversas IES nacionais.
Em termos globais, foi um mandato muito marcado pelas restrições da pandemia, e por isso muito desafiante. Obviamente permanecem muitos desafios em aberto, mas creio que fomos dando, em conjunto, importantes passos para avançar na resposta a esses desafios.
4. Que atividades destaca nos anos em que esteve à frente da U.Porto Inovação?
Muitas das atividades realizadas ao longo destes anos, podem considerar-se parte do quotidiano da U.Porto Inovação. Não obstante tratarem-se de atividades que “sobrevivem” às sucessivas lideranças da Unidade, considero que foi um privilégio poder acompanhá-las, tendo-me permitido compreender a complexidade (e o fascínio) de todos os processos de inovação.
Um dos elementos que porventura marcou a minha passagem pela U.Porto Inovação foi o de sensibilizar a comunidade para a relevância de avaliarmos o impacto das novas inovações, não só o económico, mas também o social, ambiental, etc. Desse ponto de vista, desenvolvemos nesse período, um estudo pioneiro que procurou identificar o contributo das tecnologias e spin-offs U.Porto para os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030. Foi muito interessante perceber, uma vez mais, a diversidade de tecnologias que temos e o seu enorme potencial para resolver problemas concretos das sociedades atuais.
Em 2020, quando cheguei à U.Porto Inovação, esta tinha-se deslocado há poucos meses para as instalações da UPTEC e, nas atividades desenvolvidas, procurou-se promover uma maior colaboração entre estas duas estruturas da maior relevância para dar uma maior centralidade à U.Porto na promoção do progresso socioeconómico da nossa região (e do país) e da sua projeção internacional.
Por fim, destacar, que o mandato foi intensivo na angariação e execução de projetos financiados, que ocuparam também uma parte significativa das nossas agendas.
5. A que necessidades acredita deve responder uma equipa deste género?
No meu entender, a missão do acompanhamento da cadeia de valor da inovação continua a assumir uma grande relevância na U.Porto e deve constituir o centro nevrálgico da atividade da U.Porto Inovação. Com a nossa comunidade crescentemente consciencializada para a importância da proteção da PI, é fundamental que a U.Porto disponha de uma unidade que permita às equipas envolvidas avaliar o seu grau de inovação, escolher os instrumentos mais adequados para a proteger e desenvolver uma estratégia de aproximação ao mercado.
Neste sentido, a U.Porto Inovação deve continuar a apoiar as equipas de I&D+I nos processos de gestão de tecnologias, continuar a investir em programas de prova de conceitos e apostar no desenvolvimento de parcerias estratégicas (e.g. com a UPTEC, com parceiros corporativos) para animar a comunidade a desenvolver mais tecnologias, a aumentar os seus TRLs e a levar, com sucesso as tecnologias para o mercado.
6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?
O futuro da inovação na nossa Universidade passa, sobretudo, pelas pessoas e equipas que diariamente trabalham em prol da inovação made in U.Porto.
Em particular, é crucial que, por um lado, as equipas de I&D+I continuem motivadas para transformar os resultados dos seus projetos de I&D em inovações. Por outro lado, é fundamental que essas equipas de I&D+I continuem a beneficiar do apoio de estruturas como a U.Porto Inovação, dotando-as dos recursos e capacidades necessárias para apoiar de forma ágil e eficaz todas as fases do processo de inovação e para facilitar o avanço das mesmas.
Por fim, parece-me que um ingrediente essencial para desenhar o futuro da inovação na U.Porto é apostar na colaboração com empresas, decisores públicos e sociedade civil, no sentido de acompanhar de perto as suas necessidades e, em conjunto, identificar formas inovadoras e sustentáveis de garantir que as inovações made in U.Porto conseguem transformar-se em soluções, produtos e serviços capazes de melhorar a vida das pessoas.
Por tudo isto, creio que a grande aposta para potenciar a inovação na U.Porto nos próximos anos reside na atração e pleno desenvolvimento dos talentos de todos aqueles que contribuem para o avanço do nosso ecossistema de inovação.
Relativamente à questão sobre o que falta para o futuro, parece-me que o mais importante será a U.Porto Inovação continuar a dar o apoio que as equipas de I&D+I necessitam, seja em termos técnico-administrativos, seja na identificação de oportunidades de financiamento, na abertura a redes nacionais e internacionais e a outros ecossistemas de inovação e na articulação da inovação com percursos de empreendedorismo bem sucedidos. Penso que este será o fator mais determinante para garantir que o nosso ecossistema de inovação tem bases sólidas para crescer.
Não obstante, confesso que gostaria muito que fosse possível à U.Porto aumentar o valor económico do seu portfólio de patentes e creio que seria muito merecido virmos a realizar não uma – mas várias – transações economicamente relevantes com as patentes da U.Porto (seja pela qualidade e relevância das tecnologias, seja por todo o empenho e dedicação da U.Porto Inovação ao longo destes vinte anos).