Carlos Brito assumiu a responsabilidade pela U.Porto Inovação em 2014, durante o seu mandato de Pró-Reitor da Universidade do Porto para a Inovação e Empreendedorismo. No entanto, já estava ligado às áreas da inovação e do empreendedorismo desde 2011, altura em que assumiu o cargo de Pró-Reitor.

Uma das mudanças que mais marcam a tutela de Carlos Brito é o momento em que a UPIN passa a chamar-se U.Porto Inovação. Na opinião do, na altura, Pró-Reitor, UPIN era um nome que “não vendia bem”, e por isso tomou a decisão de alterar: “A partir daí, as pessoas passaram a entender, sem necessidade de qualquer explicação adicional, que se tratava de uma estrutura ligada à inovação. “, refere.

Durante quatro anos Carlos Brito preocupou-se em dar continuidade a trabalho que já vinha de trás, mas também em criar novas iniciativas como foi o caso da Gala da Inovação ou do The Circle.  “A minha postura é sempre construir sobre o que já existe e nunca fazer um reset, acabando com o que já existia e começando tudo de novo.”, diz.

 

1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse?

Quando assumi a tutela da U.Porto Inovação aquilo que encontrei foi um gabinete de transferência de tecnologia com uma vocação para a promoção do empreendedorismo a par da atividade core ligada à propriedade intelectual. 

Devo salientar que a unidade era conhecida pela sigla UPIN. Todavia, sempre me pareceu que se tratava de um nome que não “vendia” bem. Num círculo restrito de professores, investigadores e empreendedores o nome era conhecido. Mas noutros âmbitos mais alargados era preciso estar sempre a explicar do que se tratava. Por isso, uma das primeiras decisões que tomei foi mudar o nome para U.Porto Inovação. A partir daí, as pessoas passaram a entender, sem necessidade de qualquer explicação adicional, que se tratava de uma estrutura ligada à inovação. 

Pode parecer um pormenor, mas em termos de promoção do gabinete creio que este rebranding foi fundamental. Até pelo significado que teve, pois passámos a estar mais virados para fora.

 

2. Quais eram as suas expectativas para a equipa e para o trabalho a desenvolver?

Na altura, assim como agora, a Universidade do Porto tinha duas estruturas fundamentais no âmbito da promoção da inovação: a U.Porto Inovação e a UPTEC. Esta era e é um parque de ciência e tecnologia, com uma vertente de incubação de start-ups e outra de acolhimento de centros de inovação de grandes empresas. A U.Porto Inovação, por seu turno, estava e está muito mais vocacionada para a proteção e comercialização da propriedade intelectual, bem como para a promoção do espírito empreendedor dentro da universidade e para o relacionamento de longo prazo com empresas e instituições no âmbito da inovação. 

Havendo estas duas estruturas complementares, a minha expectativa – ou melhor, a minha ambição – em relação à U.Porto Inovação era simples: fazer dela o melhor gabinete de transferência de tecnologia do país. O que, diga-se de passagem, foi conseguido pois tornámo-nos na referência nacional. Basta dizer que a Universidade do Porto se tornou na universidade portuguesa com mais pedidos de patente submetidos.

 

3. Que objetivos conseguiu alcançar e quais ficaram pelo caminho?

Como salientei, a minha maior ambição foi alcançada. A Universidade do Porto passou a ser a instituição de ensino superior com mais patentes em Portugal e demos um impulso muito grande no que diz respeito à ligação com o tecido empresarial. A nível interno, a U.Porto Inovação foi reforçada com mais meios humanos e reestruturada através de uma maior especialização dos colaboradores, não apenas funcional mas também relacional atendendo às características das entidades com quem interagíamos. De realçar também a implementação de um Balanced Scorecard que nos permitia fazer um acompanhamento estratégico muito rigoroso da atividade realizada, dos recursos utilizados e dos resultados alcançados.

O que ficou pelo caminho? Em termos de projetos estruturantes, creio que nenhum. Tudo o que estava previsto foi desenvolvido e lançado. Em termos de resultados alcançados, creio que precisávamos de mais tempo para termos ido mais longe. Mas esse foi o desafio de quem me sucedeu, da mesma maneira que também procurei construir sobre o muito que já estava feito quando assumi a liderança da U.Porto Inovação.

 

4. Que atividades destaca nos anos em que esteve à frente da U.Porto Inovação?

A minha postura é sempre construir sobre o que já existe e nunca fazer um reset, acabando com o que já existia e começando tudo de novo. Dito isto, procurei desde logo impulsionar todo um conjunto de iniciativas que já existiam, como as sessões A2B - Academia-to-Business, o BIP - Business Ignition Programme ou o concurso de ideias de negócio iUP25K. Eram iniciativas meritórias que “herdei”, que já vinham detrás, e que sendo muito relevantes só poderiam contar com o meu apoio e incentivo. Procurámos, por isso, ir mais além neste domínio.

Mas também lançámos um conjunto muito significativo de novas iniciativas. Saliento, por exemplo, a Gala da Inovação que, ao fim de três edições, se tornou num evento de referência dentro do ecossistema de inovação do Porto. Criou-se também um Advisory Board constituído quase em exclusivo por elementos externos à Universidade do Porto com o objetivo de ser um think tank de apoio a toda a política de inovação da universidade. Criou-se um clube de start-ups e projetos inovadores denominado The Circle. Reformulou-se o regulamento da atribuição da chancela “U.Porto Spin-off” o que, tendo desburocratizado o processo, levou a um incremento muito significativo do número de start-ups provenientes da universidade a utilizarem aquela chancela. 

Apostámos também de forma decisiva na RedEmprendia, na altura a maior rede de inovação do espaço ibero-americano, tendo a Universidade do Porto assumido um papel central dentro dessa rede constituída por quase três dezenas de universidades, algumas das quais muito maiores do que a nossa em termos de número de alunos. 

Enfim, lançámos múltiplas atividades, todas elas com o mesmo propósito: serem peças de um puzzle que contribuísse para a valorização económica, social e ambiental do conhecimento gerado dentro da Universidade do Porto.

 

5. A que necessidades acredita deve responder uma equipa deste género?

À concretização da terceira missão da Universidade, que se traduz no reforço da ligação com a sociedade e na capacidade de traduzir desafios e necessidades sociais em novas tecnologias e serviços. 

Deve contribuir ativamente para fomentar o diálogo entre o mundo empresarial e a comunidade académica promovendo a criação de pontes fundamentais para a inovação. Isso pode ser alcançado através do desenvolvimento e gestão de patentes, da celebração de acordos de investigação colaborativa e do suporte às fases iniciais de projetos empreendedores, sempre com o objetivo de transformar o conhecimento gerado dentro da universidade em soluções práticas e tangíveis que beneficiem a sociedade como um todo. 

 

6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?

A Universidade do Porto tem todos os “ingredientes” que existem nas melhores universidades do mundo. 

Possui espaços de incubação e de acolhimento de centros de inovação de grandes empresas, possui uma unidade de proteção e comercialização da propriedade intelectual, possui estruturas de interface que desenvolvem projetos de investigação aplicada em parceria com a indústria. As peças existem, mas ainda há um longo caminho a percorrer pois é necessário que a Universidade do Porto, no seu todo, se transforme numa verdadeira universidade empreendedora. 

Esse é um desafio que se situa ao nível das pessoas e da cultura organizacional o que, diga-se, é um desafio bem mais complexo. Não basta podermos citar casos de startups extremamente bem sucedidas que são oriundas da Universidade do Porto; não basta termos patentes que poderão valer imenso dinheiro; não basta estarmos envolvidos em projetos que foram decisivos para a competitividade de todo um setor. De tudo isso nos podemos orgulhar. Mas é preciso que os todos nossos professores, investigadores e pessoal não docente sejam empreendedores; é preciso que todos os nossos estudantes sejam empreendedores. 

Isso é um desafio para cada um de nós, mas cabe às estruturas de governação fomentar esse espírito, essa atitude inconformista, criadora e aberta ao risco. Foi isso que procurei fazer durante o período em que servi na Reitoria da Universidade do Porto. E, tenho a certeza, é isso que quem me sucedeu procura fazer. O caminho é longo? É. É difícil? Também é. Mas se fosse rápido e fácil certamente que não tinha estado à frente da área de Inovação e Empreendedorismo da Universidade do Porto durante 7 anos.