Nesta edição da rubrica "À conversa com as empresas" fomos conversar com Benedita Chaves, Gestora da Unidade de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da LIPOR. Na sua opinião, as parcerias com universidades são permitem-lhes ir "mais longe", pois na atividade industrial existe menos margem para "estudar, conhecer o detalhe, aprofundar a análise e conhecer o que está a ser desenvolvido no mundo", refere, 

P: Qual a importância da relação da LIPOR com o meio cientifico e tecnológico?

R: A LIPOR é a entidade responsável pela gestão e tratamento dos resíduos urbanos de 8 municípios, cobrindo cerca de 1 milhão de habitantes. Enquanto gestor de resíduos urbanos, temos de estar preparados para as tendências de consumo, mercado e comportamentos dos cidadãos e das empresas, pois têm um forte impacto no setor.

Acreditamos que a Inovação é o caminho para a adaptação à mudança, que é uma constante, e que se prevê ser cada vez mais rápida e radical, pelos novos estilos de vida e hábitos de consumo das próximas gerações.

A inovação é um dos pilares estratégicos da LIPOR. Somos pioneiros no sector, implementamos inúmeros projetos e iniciativas para o crescimento sustentável da região, de forma arrojada e concreta, e fazemo-lo em parceria com várias entidades, muitas delas do sistema científico e tecnológico.

É para nós fundamental ir buscar o saber, a experimentação e a tecnologia ao sistema científico e tecnológico. Na atividade industrial temos pouca margem para estudar, conhecer o detalhe, aprofundar a análise, conhecer o que está a ser desenvolvido no mundo. A ligação ao sistema científico e tecnológico permite-nos tudo isso, permite-nos ir mais longe.

O sistema científico e tecnológico está naturalmente presente na investigação, desenvolvimento e inovação da LIPOR e é complementar à nossa atividade.

 

P: Como é que LIPOR tem vindo a interagir com a U.Porto?

R: A LIPOR tem projetos com as principais universidades do país, mas temos uma forte relação com a Universidade do Porto, naturalmente, por estar na nossa área de intervenção. Já temos relações de longa data com alguns docentes que nos conhecem bem e com quem partilhamos um conjunto de desafios e projetos que fomos desenvolvendo ao longo dos anos.

Recentemente desenvolvemos trabalhos na área da valorização de escórias de incineração (FEUP - engenharia civil), Design industrial de produtos (FEUP - Design Studio), desafios de arquitetura paisagista (FCUP – arquitetura paisagista), desenvolvimento de elementos termoelétricos (FCUP – departamento de física), caraterização de cinzas de incineração (FCUP – departamento de química).

Recebemos, com frequência, alunos em contexto de estágio curricular, para desenvolverem teses de mestrado em diversas áreas associadas aos resíduos.

Somos parceiros da Universidade do Porto em várias candidaturas europeias, participamos como oradores em conferências e colaboramos também com a Reitoria na promoção do CINE ECO, um festival internacional de cinema ambiental da Serra da Estrela, entre outras iniciativas de sensibilização.

A colaboração com a Universidade do Porto tem sido muito positiva para a LIPOR, penso que temos vindo a crescer juntos, e a trazer o conhecimento científico cada vez mais próximo do mercado, com o objetivo de o tornar útil para a sociedade.

 

P: Quais os principais desafios que os dois agentes têm pela frente?

R: Na LIPOR, temos como missão empreender soluções inovadoras na gestão de recursos promovendo uma abordagem circular e a criação de valor partilhado.

Através da Inovação pretendemos alterar o nosso atual modelo de negócio, desenvolvendo novos produtos sustentáveis com valor acrescentado em 3 áreas que consideramos prioritárias, como a valorização das escórias para materiais de construção, os produtos para agricultura (naturais e de qualidade superior, que contribuam para a melhoria do solo e das plantas nele produzidas), e os materiais puros (polímeros e metais de elevada qualidade de modo a poderem ser reintroduzidos nos processos produtivos da indústria e assim aumentar o seu valor acrescentado no mercado).

Pretendemos ainda utilizar novas tecnologias de robotização, digitalização e inteligência artificial na otimização da eficiência dos processos.

Temos como objetivo desenvolver 10 novos produtos nos próximos 10 anos e contamos com a contribuição da Universidade do Porto.

Penso que o grande desafio comum é transformar o conhecimento em valor, para isso é necessário focar a investigação e desenvolvimento em algo que possa ser valorizado pelo mercado, tenha um impacte ambiental positivo e seja socialmente responsável. Queremos criar valor em todas as vertentes da sustentabilidade.