Perto de um terço dos cavalos de corrida termina a sua jornada com uma lesão grave que, na maior parte dos casos, nem a cirurgia consegue resolver. Um problema que pode ter os dias contados graças ao projeto REGENERA, o grande vencedor da 2.ª edição do BIP Acceleration, o programa de aceleração de projetos de valorização de resultados de investigação da Universidade Porto.
Fruto de trabalho de um grupo de investigação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) em terapias celulares, o projeto premiado partiu de uma colaboração conjunta com o CECA-ICETA, no quadro do Laboratório Associado AL4AnimaLs. A equipa multidisciplinar, a que se juntariam posteriormente investigadores e professores da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, começava, então, a testar o uso de células estaminais e terapias celulares para promover a regeneração dos tecidos danificados, de modo a possibilitar uma cura mais rápida e eficiente, permitindo que o cavalo voltasse a correr.
“Pretendemos devolver novas terapias com elevado potencial regenerativo para patologias graves do aparelho locomotor em cavalos e cães, numa perspetiva de uma Só Saúde e com potencial translacional para a Saúde Humana. Sejam cavalos ou atletas de alta performance cuja vida útil termina muito cedo com lesões ortopédicas irreversíveis; sejam cães, companheiros, terapeutas e cães de trabalho que desenvolvem lesões osteoarticulares crónicas e extremamente dolorosas”, refere Ana Colette Maurício, é Professora Catedrática do Departamento de Clínicas Veterinária do ICBAS.
A terapêutica já foi testada em cavalos mas também em cães com resultados muito promissores quer na regeneração de tendões e ligamentos quer no alívio da dor dos animais. No caso dos cavalos de corrida, por exemplo, conseguiram que um animal lesionado pudesse voltar a competir passados apenas 30 dias.
“A formulação combinada com um potencial regenerativo superior validado in vitro e em modelos animais em ensaios pré-clínicos foi alvo de um pedido de patente internacional em 2019. Realizámos ensaios in vivo em casos clínicos reais de cavalos com lesões ortopédicas, como tratamento compassivo e também em cães com lesões ortopédicas como tratamento compassivo. Tanto para os cavalos como para os cães os resultados foram excelentes, com total regeneração do tecido, quer em termos funcionais quer estruturalmente”, diz Ana Colette Maurício.
O Regenera ambiciona, assim, marcar a diferença na medicina veterinária, mas o objetivo final é que possa ser utilizado também em humanos: “Tentaremos que o REGENERA possa ser replicado a outras espécies incluindo o Homem, e a outras patologias como o cancro”, conclui a docente e investigadora do ICBAS
Já este ano, a equipa constituída por Ana Colette Maurício, Ana Rita Santos e Inês Reis (ICBAS) e Miguel Santos (CECA/ICETA) concorreu ao iUP25k, tendo ficado em 3.º lugar.
Com o prémio agora conquistado no BIP Acceleration 2023 , no valor de 5 mil euros, a equipa de investigação pretende “dinamizar a divulgação desta tecnologia disruptiva e conseguir arrancar com uma startup com carimbo U.Porto e ICBAS”.
Tratar cancros agressivos e melhorar a vida de pacientes com Alzheimer
No segundo e terceiro lugares da competição ficaram, respetivamente, os projetos BEAT Therapeutics e NEVADA.
BEAT Therapeutics é um composto promissor para o tratamento de cancros agressivos como o da mama, ovário e pâncreas, principalmente em casos em que os pacientes não têm nenhuma alternativa terapêutica além da quimioterapia convencional.
Resultado de uma investigação conjunta da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP), REQUIMTE, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, este composto inovador pretende, como referem os investigadores, ser o “tratamento de excelência para cancros agressivos”.
O composto – descoberto e testado pela equipa – mostra já resultados promissores e pode ser quatro vezes mais eficaz do que a quimioterapia na redução de tumores.
Já o projeto NEVADA, da autoria das investigadoras da Débora Nunes, Joana Loureiro, Maria do Carmo Pereira, Maria João Ramalho e Stéphanie Andrade, da Faculdade de Engenharia (FEUP), consiste numa abordagem que aproveita os benefícios de um conhecido medicamento para a doença de Alzheimer. Este é complementado com a ideia inovadora de usar um dispositivo biocompatível e biodegradável para libertar o medicamento ao longo do tempo.
Como referiram as investigadoras durante o seu pitch, “curar a doença ainda está longe de ser uma realidade para todos os pacientes”. Como tal, o projeto NEVADA promete, “pelo menos melhorar a qualidade de vida” dos mesmos.
"Temos este princípio de valorizar a investigação feita na U.Porto"
Foram as palavras proferidas por Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, no momento que antecedeu o anúncio dos vencedores do BIP Acceleration 2023.
Um momento aproveitado para agradecer o trabalho de todos os participantes, bem como ao júri constituído por José Vasconcelos (BTEN), Raquel Gaião Silva (Faber) e Susana Pinheiro (UPTEC)
Esta foi a segunda edição do BIP Acceleration, iniciativa organizada pela U.Porto Inovação para equipas que queiram testar e validar o modelo de negócio da sua ideia. Para esta edição do programa foram selecionadas nove equipas que, ao longo de quatro sessões, receberam formação e mentoria para ajudar a alavancar os seus projetos, todos eles com génese na investigação da Universidade do Porto.
O evento Pitch Final da competição decorreu no passado dia 25 de maio, nas instalações da UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto.
O BIP Acceleration é organizado no âmbito do UI-CAN - Universidades como Interface para o Empreendedorismo, um projeto financiado pelo Compete 2020, Portugal 2020 e Fundo Social Europeu, União Europeia.
Esta edição conta também com o apoio da BTEN, Fundação Santander, Faber e UPTEC como parceiros.