A investigação liderada por Lucília Saraiva, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, não para de ser reconhecida, desta vez a nível internacional. A inovadora terapia contra o cancro, trabalhada por uma equipa multidisciplinar, foi distinguida pelo Programa Gilead GÉNESE, que atribuiu um financiamento de 15 mil euros à equipa. O valor será “aplicado em estudos que validem o potencial terapêutico do composto no tratamento do cancro da mama triplo negativo”, refere Lucília Saraiva.
A equipa por trás do composto é composta pelas/os investigadoras/es Lucília Saraiva e Ana Catarina Matos (FFUP e REQUIMTE), Ângela Carvalho, Hugo Prazeres e José Luís Costa (i3s), Maria José Umbelino Ferreira (FFUL) e ainda Silva Mulhovo, da Universidade de Pedagógica de Moçambique, numa colaboração frutífera ente várias instituições. O projeto consiste num composto promissor para o tratamento de cancros agressivos, principalmente em casos em que os pacientes não têm nenhuma alternativa terapêutica além da quimioterapia convencional.
O composto – descoberto e testado com sucesso pela equipa – é inovador devido tanto às suas origens como aos seus efeitos. Tem vindo a mostrar resultados promissores e pode ser quatro vezes mais eficaz do que a quimioterapia na redução de tumores. Como referem os investigadores, o objetivo é que este seja o “o tratamento de excelência para cancros agressivos”, constituindo por isso uma nova esperança para os mais de 1.7 milhões de pacientes diagnosticados todos os anos com cancros agressivos do ovário, pâncreas e mama triplo-negativo e próstata resistente à castração.
O grupo pretende, agora, concluir os estudos mais relevantes para uma entrada do composto em ensaios clínicos de fase I. Adicionalmente, com o estabelecimento da uma empresa startup chamada BEAT Therapeutics, vão trabalhar para angariar o financiamento necessário para a realização desses mesmos estudos.
Esta foi a 9ª edição do Programa Gilead GÉNESE, que se assume como uma referência na área da Responsabilidade Social Corporativa em saúde. Em 2023 foram distinguidos três projetos de investigação em oncologia em curso na Universidade do Porto.
Desde a sua criação, em 2013, a iniciativa já apoiou 114 projetos, num total de mais de 2.5 milhões de euros. A entrega de prémios aconteceu no dia 17 de outubro, em Paço de Arcos.
Vitória em terra de "nuestros hermanos"
Em setembro a equipa BEAT Therapeutics sagrou-se vencedora nos pitches da categoria Bio/Pharma Tech da edição deste ano do programa de aceleração espanhol "Startup Olé".
Esta foi a 10ª edição do programa de aceleração espanhol, no qual a BEAT Therapeutics participou na sequência da sua vitória nos prémios InnoStars, do EIT Health. A grande missão do Instituto europeu é apoiar startups inovadoras na área da saúde.
“Quando soubemos que estaríamos na final, ficamos muito nervosos e entusiasmados. (…) O EIT Health permitiu-nos alcançar este destaque e talvez isso nos coloque um pouco mais perto dos nossos objetivos”, refere Hugo Prazeres, cofundador da BEAT Therapeutics.
A edição deste ano do Startup OLÉ decorreu de 4 a 7 de setembro, na cidade espanhola de Salamanca. Ao longo da última década, este programa reuniu mais de 40 mil participantes de mais de 120 países, mais de 1.500 startups, scaleups e spin-offs, mais de 1.200 palestrantes, e mais de 300 empresas e investidores com carteira de investimentos superior a 100 mil milhões de euros.
Caminho recheado de conquistas
Apesar de só recentemente se ter começado a falar mais desta equipa, a verdade é que a investigação já tem muitos anos. O ano de 2023 fica marcado pela conjugação do mundo do laboratório com o mundo empreendedor, com a criação da startup BEAT Therapeutics.
Duas das primeiras distinções públicas para o projeto de investigação foram em abril e maio deste ano, com o primeiro lugar no iUP25k – concurso de ideias de negócio da Universidade do Porto e o segundo lugar no BIP Acceleration. Ambas as iniciativas foram organizadas pela U.Porto Inovação no âmbito do projeto UI-CAN – Universidades como Interface para o Empreendedorismo.
Já em junho, a equipa foi premiada pela EIT Health nos Prémios InnoStars e participou ainda no concurso nacional que colocou frente a frente projetos inovadores nascidos nas sete universidades parceiras do UI-CAN (Aveiro, Beira Interior, Coimbra, Évora, Minho, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro), onde ficou em primeiro lugar.
Todos estes reconhecimentos, prémios e oportunidades de financiamento são fundamentais para o contributo que a equipa tem vindo a dar na luta contra o cancro. Valorizar o composto como potencial candidato a fármaco, e chegar aos doentes, é o próximo, e principal, objetivo.