A ordem do dia é inevitável: há que poupar energia e, de preferência, enquanto se poupa dinheiro e se provoca o mínimo de impacto ambiental possível. Uma tecnologia desenvolvida na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), liderada pelo investigador Adélio Mendes, garante essa possibilidade e a solução tem um nome: baterias redox de escoamento.
Mais simples não poderia ser: “estas baterias permitem armazenar energia com um custo muito baixo”, diz Adélio Mendes, o que será uma enorme mais valia para o cumprimento da diretiva europeia NZEB (Nearly Zero Energy Buildings) que, quando entrar em vigor, ditará que a energia necessária para um edifício deve ser pequena e preferencialmente produzida na vizinhança. Ao pensar nesta combinação de fatores – dinheiro, ambiente, energia - , a nossa mente passa, por norma, pelos painéis solares mas a verdade é que não nos lembramos de um pequeno “pormenor”: eles não produzem energia durante a noite. Além disso, e apesar de serem uma grande oportunidade de produção de eletricidade barata, explica Adélio Mendes, “a eletricidade produzida a partir de fontes renováveis é muitas vezes instável, sendo necessárias soluções de armazenamento”. As baterias redox de escoamento são, então, a solução ideal para isso pois além de permitirem o armazenamento de energia a custos muito baixos também têm “um tempo de vida útil muito extenso, pequeno impacto ambiental e não têm problemas de explosão”, explica o investigador. Têm ainda a vantagem, face a outros tipos de baterias, de armazenarem a energia em eletrólitos líquidos guardados em reservatórios tão grandes quanto a necessidade de armazenamento de energia.
Esta verdadeira revolução energética começou há cinco anos durante a estadia de Adélio Mendes (na foto, à direita) na Universisdade de Aarhus, na Dinamarca, onde o investigador estudou mais aprofundadamente o uso de células solares sensibilizadas com corante para armazenar energia. Daí nasceu o que viria a tornar-se numa nova área da investigação: “as células solares redox de escoamento, que permitem a conversão direta da energia solar em energia eletroquímica facilmente armazenável e convertível em eletricidade”, explica Adélio Mendes. O investigador percebeu imediatamente que estava na presença de uma descoberta muito promissora mas, apesar disso, ainda pouco desenvolvida a nível Europeu. Com base nessa clara oportunidade nasceu a empresa Visblue (atual spin-off da U.Porto e da U.Aarhus), cujo objetivo foi, desde o início, desenvolver, produzir e comercializar este tipo de baterias. Mais tarde, durante o projeto PowerFLow, com a Efacec, o grupo de investigação conseguiu, em apenas dois anos, desenvolver uma pilha redox de escoamento de 5 kW dando um importante salto numa investigação que começou em 2013.
Ao todo são seis os investigadores a trabalhar neste projeto: Adélio Mendes, André Monteiro, Joaquim Gabriel Mendes, Jorge Cruz, Nuno Delgado e Pedro Pacheco. Em janeiro deste ano receberam a notícia de que a patente foi concedida em território europeu (com validações na Alemanha, França e Portugal), um importante reconhecimento para a equipa: “O trabalho desenvolvido na U.Porto é, a todos os níveis, extraordinário. Com um orçamento limitado, é um trabalho de classe mundial”, refere Adélio Mendes. Os próximos passam pelo apoio à Visblue no desenvolvimento do processo de produção da tecnologia, mas também por continuar o trabalho com novos “upgrades” a esta invenção, nomeadamente uma “tecnologia que promete revolucionar este mercado, com a diminuição do tamanho das suas pilhas de duas a três vezes, tornando-as nas pilhas mais compactas e baratas do mercado”, conclui Adélio Mendes.