É oficial. A Universidade do Porto está cada vez mais perto da centena de patentes concedidas em Portugal. Em 2021 foram nove as tecnologias que passaram a estar protegidas em território nacional, totalizando, agora, 75 patentes concedidas.
As tecnologias são das mais diversificadas áreas de investigação e dividem-se entre quatro faculdades da U.Porto: Ciências (FCUP), Engenharia (FEUP), Farmácia (FFUP) e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
Área da saúde domina patentes concedidas em 2021
Sem nenhuma hierarquia ou pódio, seguimos a ordem cronológica para conhecer melhor estas tecnologias, começando pelas relacionadas com a área da saúde.
Logo a abrir o ano as tecnologia “D-scan”, desenvolvida na FCUP por uma equipa liderada por Helder Crespo e “Vaccine for immunocompromised hosts”, do ICBAS, alcançaram a conquista da proteção em território nacional. A primeira invenção consiste numa tecnologia de laser ultrarrápida que permite medir e controlar impulsos laser ultra-curtos com durações próximas dos 3 femtosegundos (1 femtosegundo = 0,000 000 000 000 001 segundos). As utilizações dos lasers ultra-curtos controlados vão desde a terapia e diagnóstico avançados em oftalmologia até ao processamento de materiais com alta precisão e este aparelho único permite também melhorar o modo como se constroem novos lasers. Esta tecnologia está também concedida nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia, Singapura e em cinco países europeus.
Já a vacina – pensada e desenvolvida no ICBAS pela equipa de Paula Ferreira da Silva - é a primeira vacina eficaz na prevenção de infeções provocadas por todos os serotipos de um conjunto de bactérias, incluindo multirresistentes, com o objetivo de abranger toda a população desde recém-nascidos até idosos. Só no ano passado, além de Portugal, a invenção foi concedida em mais 39 países europeus, acrescentando às já alcançadas concessões no Japão, Índia, Hong Kong, China, Canadá e Estados Unidos em anos anteriores.
Continuando na área da saúde, em fevereiro foi a vez de uma tecnologia também do ICBAS alcançar a concessão de patente nacional. Falamos da investigação liderada por Marco Alves, que promete trazer uma nova esperança a quem enfrenta problemas de fertilidade. A “mTOR Enhacers and uses thereof to improve sperm quality and function during storage” passa por melhorar o modo de preservação dos espermatozoides, através de uma nova utilização de um composto, descoberta no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) pela mente de cinco cientistas.
E em abril foi a vez da “Bio-functionalized prosthetic structure with core-shell architecture for partial or total repair of human tendons or ligaments”, de uma equipa multidisciplinar liderada pela investigadora Maria Ascensão Lopes, da FEUP. Falamos de uma inovadora forma de tratar lesões em tendões e ligamentos, para a qual a equipa desenvolveu estruturas fibrosas biocompatíveis capazes de mimetizar o desempenho mecânico in vivo de alguns tendões/ligamentos. Essas estruturas podem ser usadas “como dispositivo prostético e substituir parcialmente a função do tendão ou ligamento”.
“Process for production of 2-phenylethanol by a selected acinetobacter soli strain and uses thereof” é um dos resultados de duas décadas de trabalho da equipa liderada por Luísa Peixe, da Faculdade de Farmácia. As cientistas têm se dedicado ao estudo da resistência aos antimicrobianos em diversos nichos (clínico, ambiental, animal) e durante o desenvolvimento de alguns trabalhos com bactérias de origem ambiental, foram surpreendidas por uma cultura bacteriana com um “agradável cheiro a rosas”, descrevem. Com o apoio de investigadores de outras unidades, e com uma curiosidade bastante aguçada, puseram mãos à obra para deslindar o produto e a via de produção do aroma. “Verificou-se assim que o isolado, pertencente ao género Acinetobacter, apresentava uma via metabólica (existente em muito poucos microrganismos, na sua maioria fungos) que lhe permitia produzir o composto designado por 2-feniletanol (2-PE) e que é responsável pelo aroma a rosas”, contam as cientistas, acrescentando que várias “empresas de produção de aromas têm mostrado interesse”. Segundo Luísa Peixe, a concessão da patente portuguesa e a possibilidade do uso da tecnologia pela indústria fez a equipa “olhar para a coleção bacteriana e pensar que é possível aproveitá-la em benefício de todos”, diz.
Fechando a área da saúde, a tecnologia Bodygrip, desenvolvida na Faculdade de Engenharia da U. Porto, foi concedida em Portugal já no final do ano, em dezembro. Saiu da mente de um grupo de investigadores da FEUP, atualmente liderado por Teresa Restivo e trata-se de um dispositivo capaz de medir forças de compressão e tração e sua energia gasta associada. Permite medir diretamente a força de preensão manual e, substituindo acessórios específicos, também permite medir forças de um ou vários grupos musculares individuais. Além de Portugal, esta invenção também está concedida nos Estados Unidos, Espanha e Itália.
Melhorar comunicações e investir na eficiência energética
Saindo um pouco da área da saúde, falemos agora de três tecnologias inovadoras que, um pouco como todas as outras, têm como objetivo melhorar a nossa qualidade de vida seja em casa ou fora dela, em eventos e outros.
A invenção “Method and device for live-streaming with opportunistic mobile edge cloud offloading” ou Iris, como lhe chamam os investigadores, foi concedida em julho de 2021. “Tem como objetivo melhorar as comunicações em ambientes com uma grande densidade de pessoas, como eventos desportivos ou concertos”, descreve o investigador Rolando Martins (FCUP). Para isso ser possível, a equipa de investigação criou um software capaz de gerir a carga entre servidores que, ao mesmo tempo, é capaz de identificar qual o meio mais apropriado para distribuir conteúdos para cada utilizador nestes cenários. A grande inovação desta tecnologia, refere Rolando Martins, é a “utilização de recursos que até agora não eram explorados, mais concretamente tirar partido dos recursos dos telemóveis dos utilizadores que estão a usar o sistema”, refere. Assim, ao contrário do que acontece habitualmente, onde todos os clientes são suportados exclusivamente por uma infraestrutura de comunicações, a equipa da FCUP tornou possível que os telemóveis comuniquem diretamente entre si e que partilhem informação. A Iris consegue reduzir a carga das infraestruturas de comunicação “até 12 vezes, mostrado em testes laboratoriais”, conclui.
Manter uma temperatura agradável nas nossas casas é uma parte essencial do nosso conforto. Contudo, esta comodidade rapidamente se torna dispendiosa. Um grupo de investigadores da Universidade do Porto, liderado por Szabolcs Varga (FEUP e INEGI), desenvolveu uma nova forma de garantir o conforto nas nossas casas a um custo muito menor que as soluções atuais. A inovação desta equipa consiste, então, na invenção de um sistema de arrefecimento que inclui um ejetor com geometria variável (isto é, que se adapta ao ambiente frio ou quente), o que só por si já á “atraente pela simplicidade estrutural, baixo custo inicial, longa vida útil e relativa flexibilidade em termos de seleção de refrigerante”, explica o investigador.
Por fim, mas não por último, e mantendo o foco na eficiência energética e térmica, a “Parede térmica, maciça e homogénea de blocos vazados solidarizados in situ”, também desenvolvida na Faculdade de Engenharia da U.Porto. O investigador Lino Maia descreve-a como “uma tecnologia híbrida para a execução de uma parede simples, maciça e homogénea, de fácil e rápida execução e de elevada eficiência térmica para edifícios”. A parede é composta por blocos leves pré-fabricados com betão ultra leve e não necessita de argamassa para ligar os blocos. Estes são encastelados e, de seguida, para solidarizar a parede, os vazios dos blocos são preenchidos com o mesmo material com que os mesmos são fabricados. Como refere Lino Maia, a partir de 20 cm de espessura o isolamento térmico pode ser dispensado: “As pontes térmicas são evitadas porque os conectores não estão nas extremidades dos blocos e como tal o enchimento do interior da parede faz a rotura térmica nas extremidades dos blocos”, conclui.
Mais de uma década a proteger o que de melhor se faz na U.Porto
Desde a criação da U.Porto Inovação, unidade da U.Porto que se dedica à proteção e valorização do conhecimento produzido na Universidade, já foi alcançado um total de 75 patentes nacionais concedidas, ao qual se juntam mais de 250 patentes internacionais. A primeira patente portuguesa da U.Porto foi concedida em 2005.