A formação de Luísa Valente, atualmente docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), começou no curso de Biologia na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) e passou pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde fez o seu Doutoramento e onde deu aulas. Nos anos 2000 voltou à Universidade do Porto, sendo investigadora do CIIMAR desde 2001 e docente do ICBAS desde 2003.
Ao perguntar-lhe o motivo da escolha desta área científica, a investigadora revela que aconteceu “por mero acaso”, apesar de assumir que cresceu como uma criança “muito curiosa, que gostava de flores e natureza”. Quando terminou a licenciatura tinha interesse em várias áreas, e a sua carreira como investigadora começou na fisiologia vegetal. No entanto, e nas palavras da própria, acabou “ao lado, na ciência animal” quando foi trabalhar para a UTAD: “Tinham excesso de docentes na área vegetal, para a qual me tinha candidatado, mas ninguém para lecionar zoologia, por isso desafiaram-me a experimentar uma área que, até à altura, não me tinha cativado. Gostei. Gostei mesmo muito”, conta.
Não demorou muito até nascer a paixão pela aquacultura e o seu “percurso em direção aos peixes”. Atualmente, o seu trabalho assenta na sustentabilidade da aquacultura, o que envolve um conjunto de abordagens: “identificação de novas matérias primas a incorporar em dietas para peixes, avaliação do seu impacto no crescimento e bem-estar dos animais, passando ainda pelo valor nutricional do filete para consumo humano”, explica a investigadora.
Até aos dias de hoje, o grupo de investigação onde Luísa Valente se encontra inserida já enviou quatro comunicações de invenção à U.Porto Inovação, todas elas com pedidos de patente ativos, quer a nível nacional, quer internacional. Duas das patentes resultaram de doutoramentos em ambiente empresarial. Identificaram-se “produtos naturais promotores do crescimento do linguado”, bem como um “hidrolisado proteico para aumentar a resistência do robalo a agentes infeciosos”, explica a investigadora. Outras das tecnologias melhora a biodisponibilidade de nutrientes em algas facilitando a sua absorção. Mais recentemente, começaram a desenvolver também uma ração para ouriços do mar.
Apesar da grande paixão pelo que faz e pelo “enorme interesse em aprender” a verdade é que, para Luísa Valente, o objetivo final é ver o “trabalho refletido em produtos com aplicação prática”, diz. Assim sendo, os próximos passos serão “o licenciamento das patentes para que se possam tornar úteis para a sociedade”.
"A U.Porto dá-nos um ambiente fantástico para promover a inovação"
Tudo isto é possível, segundo a investigadora, num ambiente de investigação colaborativo e versátil como a Universidade do Porto. Para Luísa Valente, a principal vantagem de pertencer a esta “família” são as sinergias possíveis entre várias unidades orgânicas ou centros de investigação diferentes, o que contribui muito para a valorização e proteção de conhecimento, pontos para os quais tem sido “altamente incentivada enquanto investigadora do CIIMAR”. No entanto, a investigadora lamenta alguma lentidão decorrente da centralização de serviços, e acredita que o caminho é criar “organizações ágeis e com grande capacidade de resposta onde a proximidade é imbatível”, refere.
E os sonhos? Luísa Valente não pede “três desejos à lâmpada mágica do Aladino” mas assume que gostaria muito de realizar dois: em primeiro lugar, poder ter um grupo de investigadores a trabalhar no seu grupo, focados na ciência e sem contratos a prazo. Depois, e principalmente, sonha “ver a aquacultura em Portugal aparecer no mapa internacional”. Na sua opinião, já se atingiu a excelência científica, mas não a capacidade de produção. “Isto deixa-me triste, mas sou resiliente”, conclui, piscando o olho ao futuro e a novos projetos para os quais devemos estar (e estaremos!) atentos.