A formação de biofilmes é muito comum em tubagens onde circulam fluidos aquosos, podendo a sua presença ser prejudicial para ao desempenho de processos industriais. Como tal, os biofilmes precisam de ser controlados. A equipa de Manuel Simões, docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e investigador do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), tem em mãos a solução ideal. Chamou-lhe MCBR solution e já tem um parceiro industrial interessado no seu licenciamento.
Mas o que são, afinal, os biofilmes? São comunidades biológicas com um elevado grau de organização, que permitem a fixação de bactérias e outros microrganismos nas superfícies industriais. “As atuais estratégias de limpeza deste tipo de superfícies são consideradas pouco eficientes, o que leva à acumulação de detritos e microrganismos ao longo do tempo. A essa acumulação damos o nome de biofilme”, explica o investigador Manuel Simões. Podem desenvolver-se em qualquer superfície húmida, formando comunidades altamente estruturadas e coordenadas - verdadeiras cidades de microrganismos – representando uma fonte de contaminação recalcitrante.
Apesar de poderem surgir em qualquer indústria onde a atividade da água permita a sobrevivência microbiana, Manuel Simões explica que os biofilmes são comumente encontrados “em equipamentos e linhas de produção da indústria alimentar e em tubagens do sistema de distribuição de água potável”. Assim, são um grave problema para indústria: muito difíceis de eliminar, por um lado, muito capazes de comprometer a qualidade dos produtos finais, por outro. Daí a necessidade de os conhecer, controlar e criar estratégias para os eliminar quando surgem.
O MCBR solution – Multiple Cylinders Biofilm Reactor – é um dispositivo inovador para o estudo de biofilmes em condições controladas. O reator permite não só criar biofilmes (ver fotografia, à esquerda) para análises laboratoriais como também analisar a eficiência de possíveis soluções de desinfeção e eliminação dos mesmos. “Este dispositivo é particularmente relevante para o desenvolvimento de estratégias eficazes de desinfeção aplicáveis em superfícies industriais”, revela Manuel Simões, inventor principal do MCBR.
Além disso, acrescenta, e apesar de ser um dispositivo adaptável e compacto, o MCBR é o reator ideal para formação de biofilmes com uma maior área de amostragem pois utiliza superfícies curvas para a adesão microbiana. Isso, combinado com a “possibilidade do ajuste fino das condições hidrodinâmicas”, explica o investigador, “permite o estudo de biofilmes em condições que são reproduções fiéis das encontradas nas mais diversas tubagens industriais”, diz.
Assim, o MCBR solution traz o melhor de dois mundos a duas indústrias diferentes: ajuda as empresas produtoras de desinfetantes a avaliarem a eficiência das suas formulações na eliminação dos biofilmes, e permite que indústrias alimentares e de distribuição de água potável garantam a qualidade dos produtos finais. Não existindo nenhum “outro dispositivo com estas potencialidades”, conta Manuel Simões, o MCBR já tem parceiros industriais interessados no licenciamento da tecnologia
Ser referência no estudo de biofilmes
O valor da ideia levou a equipa de Manuel Simões (composta pelo próprio, por Lúcia Chaves Simões, Inês Gomes, Isabel Oliveira e Susana Fernandes) a participar na mais recente edição do Born From Knowledge, uma iniciativa da Agência Nacional de Inovação. Apesar de não terem sido premiados, Manuel Simões acredita que esta passagem foi muito importante e “contribuiu de forma enriquecedora para a elaboração de uma estratégia de negócio”.
E é aí mesmo que a equipa se encontra: a desenhar o futuro, com a ajuda da U.Porto Inovação. “Pretendemos que o MCBR solution seja uma referência no estudo de biofilmes. E isso passa por licenciar a tecnologia a uma empresa com forte poder comercial e influência na área de aplicação”, conclui o investigador, esperando ter boas novidades em breve.