Dois investigadores das faculdade de Medicina (FMUP) e de Engenharia (FEUP) da Universidade do Porto acabam de criar, em tempo recorde, um escudo protetor de aerossóis para uso na área da Saúde Oral, que promete resolver alguns dos desafios que a pandemia por COVID-19 colocou a essa área clínica. O pedido de patente, cujo processo de análise se iniciou a 2 de abril, já foi submetido às entidades competentes pela U.Porto Inovação.
Miguel Pais Clemente, da FMUP, e Joaquim Gabriel Mendes, da FEUP, juntaram competências para desenvolverem uma invenção que apelidaram de “escudo protetor de aerossóis em Medicina Dentária”.
Este instrumento inovador é composto por uma campânula de proteção em forma de ‘U’ invertido. Nas paredes laterais, oblíquas, existem dois orifícios que permitem a entrada das mãos do profissional de Saúde Oral e do seu colaborador. O dispositivo é feito em acrílico, permitindo uma visualização correta do campo operatório, para além de assegurar a extração dos aerossóis por um sistema de ventilação forçada, através de um filtro específico para retenção de bactérias e vírus.
Mais proteção para doentes e profissionais
Como se sabe, a realização de determinados procedimentos clínicos envolve a presença de aerossóis, o que pode originar um aumento da disseminação dessas gotículas respiratórias. “A proximidade com a cavidade oral, bem com a facilidade de transmissão do coronavírus SARS-CoV2 pelas gotículas que se propagam no ar faz com que haja a necessidade de conferir ao profissional de saúde oral um maior grau de proteção”, salienta Miguel Pais Clemente, investigador da FMUP na área da saúde oral.
Joaquim Gabriel Mendes, investigador da FEUP e do INEGI, explica que a solução criada dota a atividade clínica em Medicina Dentária e Estomatologia de “um meio de proteção adicional que funciona como um escudo protetor entre o doente e o clínico”, beneficiando ambos, e minorando os riscos associados aos aerossóis. Ou seja, o dispositivo pode ser visto como “um prolongamento dos equipamentos de proteção individual”, acrescenta.
Ajuda adicional
Note-se que a prática da atividade clínica de Medicina Dentária e Estomatologia encontra-se devidamente enquadrada e preparada para lidar com as questões relacionadas com as infeções cruzadas. “O profissional de saúde oral tem, ao longo da sua formação, um conhecimento profundo sobre as doenças infeciosas, e o controlo da infeção cruzada”, salienta Miguel Pais Clemente.
No entanto, face ao aparecimento da COVID-19, e perante as especificidades de alguns atos técnicos, médicos dentistas e estomatologistas viram a sua profissão suspensa por decreto ministerial durante o estado de emergência, exceto para a realização de situações comprovadamente de urgência ou inadiáveis.
Agora que a Direção-Geral da Saúde voltou a autorizar o exercício da atividade clínica nas áreas da Medicina Dentária e da Estomatologia, o “escudo protetor” desenvolvido na U.Porto poderá assim dotar os profissionais de ambos os setores de uma ferramenta adicional que possa complementar o equipamento de proteção individual que já estão habituados a utilizar.
(Notícia escrita por Olga Magalhães, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto)